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terça-feira, 12 de janeiro de 2010



Escrevo

As mãos têm palavras nos dedos
elas caminham
nos clarões de tinta
pulsando versos
com a noite distraída
dançando em silêncio
com a poesia
suspirando versos

o ar
encurvado em arco
de letras que o mar segreda
na distância

escrevo
vazios em intervalos
bocados de areia
opacos
das massas concêntricas das maçãs
de um rosto
fragmentos de luzes

com as mãos
se pensam as palavras
modeladas em páginas soltas
de parágrafos E soluços


ESCREVO

Versos em Riste


I

Uma pedra tracejada de sol
erguida
entre folhas aligeiradas de suor


vagas de efusão
junto às árvores abertas
braços cruzados


estilhaços de sois
nossos ossos da água
da pedra prosando
bolhas de zinco
em linha recta



II

Desaparecida entre sílabas
uma página sumida
na neblina que sobe dos olhos aquiescidos


pendia sobre as árvores
na consciência de sal
repousando na luz
de teoremas inflados
de palavras em decomposição



III

filamentos ébrios
de gritos incandescentes
centauros lilases no rosto
de punhos soletrados
de versos em espasmos


se um hausto perde
como poemas esguios
nas ervas crustadas de olhos
ferindo aura do vento
por onde corre a água arqueada
ogivas de sílex


banho-me na praia
espiral de guizos abertos
onde navegam frases seminuas
rasgando a língua da terra



IV

O cosmo desértico
eclipsado pela órbita voluptuosa
de um seio no cio


lábios que impingem desejos
espelhos E cúpulas emplastrados
giestas E ancas
dobradas de suor


magmas no reflexo
de dois corpos em esplendor!



V

Rosas que morrem nos meus olhos
enquanto nasço o gume da lama
hexacordes na derme eriçada
volumosos beijos de aprender
entrando fora das linhas geométricas
com um braço apenas


torrentes e pedras de lume
mãos juntas ao corpo
um espiral aninhado de sonhos




VI

Uma pedra de olhos vendados
Nas margens prolongadas de gozo
Flectindo barcos ao bocejar
As salivas sinuosas da boca à deriva




VII

Plantaram árvores imponderáveis
na praça lúcida
plantaram a estiagem no coração do homem
fizeram pausas nas partituras atmosféricas
suicidaram-se todos na funda maresia



VIII

Viste a forma eclipsada
da página nos olhos
E as luzes no ventre
interminável?



os orvalhos quentes ou quase nada
o sexo do fogo que retesa
pulsando água



IV

Implode a linguagem amendoim
areia evaporada
jardim de suor
dos motores em movimento

o óleo fino confunde-se na boca crivada de velas
hélices que se entrelaçam
a veia que sobe
a poeira enevoada de sol
numa noite branca
nula
desenhado no cérebro das pedras indecisas

ponto


X

nas ilhas onde as águas flutuantes
sobre orlas algébricas de espasmos
vê-se a vertigem dos sons
de toda a letra extenuada
de frases inconjuntas

olho as ilhas
troféus do mar
onde o sol enterra seus de raiva
violenta E silabada
pórticos de luzes E poeira
conjugadas
porque são ilhas
são ideias embandeiradas
do sal que cai de todos nós

dez ilhas
parecem bocados
de uma ânfora quebrada
num pavimento azul


XI

A quarenta gruas de suor
sobre as lavas de neve incandescente
lavas E versos em riste
coreografia de limbos
na estrada anatómica
Em desfile de vozes
E as libélulas pensativas
Rodopiam ao sabor dos pontos de interrogação


XII

As montanhas do teu corpo
teus seios vulcânicos
em convulsões E volúpias
oscilam de desejos
quando a música desliza
entre as uvas do teu rosto
de te apertar ao meu tronco E
lamber as sílabas dos teus lábios
em folhagens de ossos fundidos

abeiro-me ao encanto róseo
da férrea fundição
de me ser em ti

Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta