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terça-feira, 6 de abril de 2010

Acordei com a sensação

Acordei com a sensação
que este é o meu último dia
E que todo o oceano apodrece em meus rins

ao olhar para trás
vejo o milheiral ressequido rabo de cometa
setembro enrugado
desilusão de um passado vazio

minhas mãos fechadas E vazias tremem inexoravelmente
enquanto bato à porta do Oráculo
para decifrar a vida E não acho a resposta

A qualquer momento soará o clarim
na carruagem de fogo
atravessarei as fronteiras da eternidade

quando eu morrer (não importa como)
acontecerá o meu poema perfeito:
morrer de desgosto pelas promessas em vão
morrer de felicidade porque amei E fui amado


Soletrando O Sol

uma árvore esbracejando
como lágrimas pulverizadas
pelo luar ao meio-dia
em prosas desérticas
coleando terços de água
numa estrada vendada

letras pó de mármore
janelas abertas invisuais
tatuagem nos olhos de barcos errantes
átomos da alma com sabor a limão
névoas sombrias do sol encurvado
sobre as minhas lágrimas descalças
vendendo lenços aos que choram

esfinge emplastrada de suor
clivagem de risos ritmados

quase sempre
escadas obtusas de dedos que descem arvorados
esmagando as bagas de luzes oblíquas
caminhando entre teias E laços
prosélitos das folhagens
de um canto inacabado

a face do mundo
são anéis orvalhados
solfejos solvidos soletrando o sol

Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta