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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

TERRA SALINEIRA






Um traçado de miragens envidraçadas

gotículas douradas de árvores que ardem no poente

desgrenhadas em arrepios efusivos

pintando o rosto agreste

desta terra salineira, sentinela atlântida



salestício em prosa axadrezada

endorses de sal cristalizado da ilha salislena

terra salgada, alma aveludada

flor do mar na enseada do riso

o aroma do vento salgado germinando sais

minha pátria mourejada de espumas

de onde saem navios à flor da água

enquanto redijo a saudade no tabuleiro

liras de sal que brilham ao sol da minha terra!







domingo, 28 de setembro de 2014

Engolindo lembranças


Eflúvios de amor que se desencanam da alma
como asas de querubins
amassadas pelas correntes de ar
em papel pintado brincando nas nuvens

ando na pontas dos pés
para não acordar aquela velha paixão
num sono enregelado 
uso as lágrimas para dar forma
ao prazer imenso de te escrever em versos
cordilheiras de versos que se esvaem
na correnteza do poroso rio
flácido E obeso de engolir lembranças
de um amor que não passou disso mesmo!



segunda-feira, 30 de junho de 2014

Fiúra (elegia ao norte da ilha do Sal)


A Fiura que tantos ecos produz
é um templo de vozes E pilares ondulantes
de troncos que amparam seus rumores
tão profundo como oboés doces E verdejantes
um universo de calhaus enraizados E rítmicos
joeira de rochas pensativas

Fiura é uma mistura de azul E negro
a eloquência do mar E da terra
a poesia em estado selvagem
caudais de lágrimas ondulantes
dos que no mergulho eterno ficaram por lá
atraídos pelo seu beijo de estrema unção

a Fiura de delírios vesperais
guarda o segredo de cigarras que explodem
veste-se do carbono vulcânico
de lavas, de restos de um barco
na feiura da Fiura radiosa

o norte da ilha
é um pedaço da lua que caiu na terra!


quinta-feira, 19 de junho de 2014

Então, diz-me se sabes…

Sabes
da poesia que te sufoca enquanto dormes
das palavras turvas E causticantes
Sabes
de espelhos LEDs
que se ligam à alma
da tinta de sangue autografada
em sinais fechados E lagos poeirentos…?

Sabes
por que os trilhos prosaicos
de loucomotivos se esvaem ao amanhecer
por que raia a sombra sonora dos teus olhos
enquanto escrevo a seiva neruda
remoinho de versos que pulsam
como se te amasse de verdade…?

Então, diz-me se sabes…



quarta-feira, 28 de maio de 2014

AFRODÍSIA....




Helénicos olhos, pedras de anil
gotejando fogo sobre o coração
sólido, frio
dizia-me a mulher
enredada na teia de sílica
sorriso de sombras coloridas rendilhadas a ouro
inventando palavras
em reflexos geométricos E turgescestes
clowns de poetas descuidados
acolhe-me nos teus seios desvairados
E bebe meu último suspiro
dizia-me a mulher
torres relampejantes
que se afundam nas tuas uivantes entranhas
nevoentas E venais
dizia-me a mulher
as asas que Deus te deu
tanto podem levar-te ao céu
como fazer-te descer ao inferno


O brilho do sol se mede
pela beleza de uma mulher! 

quarta-feira, 19 de março de 2014

AGRESTE



 Aqui o Criador abusou do azul E castanho
fez do sol o rei absoluto
a chuva cai por um minuto
molhando a vida florida no espaço

aqui as montanhas E enseadas
recordam as velas brancas
o lamento dos homens do mar
é Morna agreste que desprende do violão
no seu jeito sonâmbulo E doce

aqui meus desejos coibidos
singram nas asas do pardal-de-terra
E o único vazio existente
são as ondas do mar que se espalmam
dos meus olhos em direcção ao céu.


quarta-feira, 5 de março de 2014

PENA



Há mais segredos nos teus olhos
que o Universo todo
 mais calor nos teus seios
que em todo o Trópico verdejante
 mais malícia nos teus lábios
que em todo o Harém do Rei Salomão

É pena que tudo esteja envolto
em mentiras E traições!






terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

VINTE E TRÊS




















Aquele vidro embaciado pela chuva
que caía dos olhos
já nem me lembro se doeu
mas guardo aquele estrondo
a esfera, o botão de paris
da hora esquecida 
em que a lámina traçou o rio vermelho
como o nilo E o tamisa
que nascem no meu rosto
E desaguam no teu ventre

dizem que é amor
a luz que acendeu
geometricamente
atravessando o corredor dos sentidos
como bandeiras agitadas pelo suspiro dos beijos
dos dois corpos hemisféricos
dois terços de mim é água
E o outro terço se afoga
em conjecturas
buscando o sentido da chuva ridente
das algas submersas ao sol azedado.





















quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

mentiras


Este não é meu jeito de estar na vida.
Se alguma vez me vinguei das tuas mentiras
Se joguei as pérolas aos porcos 
Se cavei abismo no teu rosto sândalo
Confesso, foi por sentir meu império a ruir

Dói-me a consciência de ter caído no teu jogo 
odeio assumir que te amei mais do que a mim mesmo
Escrevi poemas no livor da tua alma
Nos teus seios movediços deflagrei-me 
Vivi milenárias aventuras ao teu lado 
E mesmo assim, nunca te conheci.

Meu coração é lava estarrecida
um jazigo de mágoas plantadas
Por uma víbora que se esfumou na esquina…



terça-feira, 21 de janeiro de 2014

DO UNIVERSO QUE ERA SÓ MEU





Sinto saudade da minha infância
foram tempos de muita dificuldade
mas eu tinha um universo que era só meu

Após conhecer esse mundo incomensurável
catalogado pela cor da pele E de posses
de pequenos deuses E grandes artifícios
homens E mulheres atrás de máscaras
lascívia travestida de pedras preciosas
fantoches rendidos às migalhas dos que governam pela força…

Sinto saudade da minha infância, do meu universo
porque o resto é pura hipocrisia, é teatro

que a História há de revelar!




segunda-feira, 13 de janeiro de 2014


NÉVOA DE LUZES 
A névoa de luzes que trago na mão
da vela dourada plantada nos olhos,
cresce no viés do vento ferido
pelo abismo dos meus passos errantes
em voo harmonioso
colhendo o sofrimento dos outros

pedras preciosas da estrada marrom
que me leva à madrugada
de lembranças E sonhos
do impenetrável mistério do céu
que cobre a minha sombra

Vejo o sol disperso
de mórbidas cores que apodrecem
nas rimas da vida, nas feridas da alma
gotejando luzes que caem da vela dourada
como o choro das aves que se levantam em ondas

ando com os pés descalços
mas agora me apetece voltar para casa
abrir a janela E deixar fluir o rio que há em mim
libertar os anseios como pássaros engaiolados
soltar-me no espaço E regressar-me à vida!




Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta