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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Ainda eu te amo






Ainda eu te amo


Ainda eu te amo
do meu jeito mas te amo
daquele jeito avassalador E adolescente
mas te amo!

Com tantas conjecturas E poemas metafísicos
com tantas incertezas E platónicas inquietudes
em ter de ficar contigo ou não
de te beijar ou não te ver mais
o que importa é que ainda eu te amo

Se um dia estiveres em outros braços
se eu for levado pelas correntezas da solidão
se meus versos perderem o brilho da paixão
levar-te-ei no coração onde quer que eu esteja
porque serás sempre o meu destino

O que importa é que ainda eu te amo.










Se


Se eu pudesse ao menos
cavalgar as colinas do teu corpo
alcançar o mundo atrás dos teus olhos
violetas marmóreas
segredos da alma estendida ao sol

se eu pudesse ser
o mar entre os teus dedos
viajar na folha que caiu do teu íntimo
E voar no azul dos teus (an)seios

se eu pudesse ao menos
me agarrar às partículas orvalhadas
dos teus lábios em esplendor
se eu pudesse
me libertar desta solidão suspensa
sarça alourada de fogo
sonhos que pendem das calhas do meu cérebro

se eu pudesse ao menos
te apagar da minha vida...








Transformismo

Narciso
de instantes a ouro
espelhos de água
que se transforma em lodos
nas cidades orvalhadas de sangue

todos os caminhos
desdobram-se em mutações
leões em plantas
aves em rochas porosas
estrelas em chuvas incadescentes
danças em epilepsias ritmadas

o longe está tão perto
quanto os campos em toda a árvore
os silos são homens adormecidos
carrocéis amotinados

transformam-se
transferem-se
deportam-se no tempo
em grandes livros negrereiros

traços voam nas horas pendidas
gomas de sol vagarosas
lençóis de abril
embandeirados

transformismos de uma vida
para outra
entorpecida
de gazes E ópios aquiescidos

dói-me o lado direito
pela (r)evolução vermelha
por todos os discursos malogrados
que hoje são ciprestes
de histórias por contar

há olhos perdidos por todo o lado
risadas que não foram dadas
no rebuliço dos carros
no tropel dos cascos de homens
condecorados pela súbita mutação
da alma partida ao meio

- deixem crescer
as flores azuis
no canto dos olhos molhados
deixem-me amar
em linha recta...






terça-feira, 26 de outubro de 2010






Tatuagem

Passaram dias, anos, séculos intermináveis
Vivi paixões que o tempo apagou
Chorei mágoas de não beijar a tua boca
Mas a tua imagem tatuada na minha alma
Permaneceu como uma flor viçosa e perfumada!

Escrevi poemas, folhagens da primavera,
Escrevi poemas com sabor do mar E da terra molhada
Só tenho mágoas de não ter escrito
Na tua memória o amor que sinto por ti.


Como fumo que ergue das profundezas do passado
Cresce em mim a febre de te beijar
De voltar a ser adolescente, de te agarrar com força
E te arreigar eternamente no meu ser!

Tenho medo que o meu coração acorde
Deste sonho abençoado E morra de desgosto
Ao descobrir que andas à distância do sol

Amo-te, princesa das mechas de ébano!





sexta-feira, 22 de outubro de 2010







Veras E Lúcidas Curvas

Não sei se te interessa
o que escrevo
mas hoje quero confessar-te
que o meu primeiro poema começou em ti
dedicado aos teus olhos crepusculares
ao teu corpo esculpido com o meu olhar

eram versos dos tempos
em que a planura agreste da nossa ilha
no meu universo adolescente parecia um oásis
eu exaltava as curvas perfeitas do teu corpo
veras E lúcidas curvas!
como a beleza das flores
os teus braços eram ramos de acácia
a tua boca uma Fonte de mel
onde morriam meus desejos reincidentes

Eu sabia que me amavas sem saber
em numerais de sonhos
colinas de ansiedade de beijar teus seios
por onde entravas, acendiam sois
levando-me às nuvens teu encanto adeusado

Escrevi versos relampejados de desejos
caminhei, tropecei, levantei entre versos
escrevi livros plantei árvores
recomecei o infinito
mas teus olhos crepusculares ainda me dizem
que meu ultimo verso escrito será para ti
no meu último fôlego de vida.




sexta-feira, 15 de outubro de 2010





cinzas douradas


Vesti uma camisa de cinzas
O céu estava em cinzas
Meu coração estava em cinzas
A casa, as árvores, a terra toda
Eram cinzas
Olhei para o espelho, as minhas lágrimas em cinzas
Diziam-me que os momentos de glória são cinzas douradas
Que se espalham com o vento.









Poema do norte
Para escrever um poema
de árvores despidas
de miragens ao norte
é preciso pisar a terra escalavrada
E ter o Sal do Oceano, da Atlântida
é falar do vento leste
pisar as estrelas na tempora
luzir as lágrimas do mar
de tórridos sois do meu olhar

Estou no norte da ilha
agarrado à cintura da Fiúra
E escrevo o farol muribundo
enquanto as ondas endiabradas
aos gritos, espumam de raiva
toda a metafísica eriçada

Para escrever um poema.
do solo lunar salineiro,
há-que trazer à memória
o barro que foi o homem desterrado
que pisou esses torrões de terra,
alimentar o sonho na revoada
dos corvos, dos pardais, da espinheira
que dentro de mim está o mundo

Aqui no norte, o único rio que existe
nasce nos meus olhos E percorre todo o meu rosto
caiem gotas incandescentes
faz nascer poemas entre as árvores
revivendo os meus sonhos de menino
porque aqui não se escreve poemas
eles nascem no mar de Fiúra E se estendem pelos pequenos montes
no morrinho de açúcar, de filho
da calhetinha, do morro leste e de mim mesmo
das borboletas E dos peixes
das rosas castanhas E cinzentas

Aqui os poemas são pintados de argila








Eu nunca te vi

Eu nunca te vi
mas sei que és especial
Nunca nos encontrámos
mas eu te sinto bem perto de mim
vejo os teus olhos, pedras preciosas
vejo o teu sorriso onde morre os meus anseios
vejo os teus braços querendo me enrolar
vejo o teu corpo, pão apetecível
porque a distância só existe no coração
de quem não acredita
pois, todos os caminhos me levam a ti

Eu nunca te vi
mas sei que tens os traços de beleza E perfeição
que se encaixam nos meus sonhos

Eu nunca te vi
estás em outro lugar
contudo a tua presença é tão real
que te vejo ainda que não esteja
que te beijo ainda que não esteja
que te amo ainda que não esteja.












Qualquer Dia

Qualquer dia
eu embarco na loucura dos meus sonhos
nas profundas águas da minha sede

Qualquer dia
eu me entrego ao perigo de te amar
à loucura de te possuir
naufragando-me nos desejos proibidos

ferirei a minha integridade
sofrerei com prazer
dormirei nos teus braços
para nunca mais acordar

qualquer dia
rendo-me à tentação
de me perder em ti

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

EVELtv on WorldTV.com

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Um Poema Para Jorge Barbosa

Estou olhando o teu retrato
velho poeta, mosaico de recordações
os teus lábios ainda segredam versos na «voz íntima»
os teus olhos, habituados a contemplar
os campos despidos de verde
ainda trazem a mesma mágoa
exarada nas páginas do «Arquipélago»


Apesar da tua figura totémica de homem culto
soubeste traduzir o sentimento do teu povo
abraçaste as ilhas com os teus versos incomensuráveis


Jorge Barbosa, poeta do povo E das ilhas
estoicamente, resististe à correnteza do maneirismo
exaltando a valentia dos teus irmãos
eternizando as qualidades da terra-mãe


A tua poesia é semente de amor
lançada no coração da gente
a tua poesia é pão E água
que sustenta a alma da gente
a tua poesia é sal que retempera a esperança
de um dia ver esta terra como um imenso paraíso


Obrigado, Jorge Barbosa
por tornar a minha vida menos penosa
com a tua doce poesia, «nau» que aporta as ilhas,
«clarim da tua manhã triunfante».

Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta