sexta-feira, 1 de outubro de 2010
RIBEIRA FUNDA
Como cresceste!
Como eu cresci!
Ribeira das garatujas
do sol descarado
dos barquinhos de papel
das rugas dos velhos
dos pés cozidos ao chão
formigando freneticamente
atrás de bolas de trapos
Ribeira Funda
eram tão fundos os teus sulcos
como rasgos dos meus calções
como as pieguices das moças do fontanário
Ribeira Funda
penso em ti com ternura
penso nas tuas gentes
na terra solta E poída
E orgulho-me de ser teu filho
ensinaste-me a roubar doces
deste-me o gosto pela poesia
falaste-me de uma ribeira sem água
por onde correram apenas mágoas
da pobreza de todos nós
o sémen de todos nós
hoje tens o tamanho do mundo
porque a tua gente está em todo lado
de ti saíram craques
para os relvados do mundo
pedreiros rebocando antologias para o céu
pescadores de anzóis imponderáveis
mães com lágrimas de tudo
cidadãos a tempo inteiro
Ribeira Funda
não tens culpa das desgraças
porque sempre houve ângulos para todos nós
Ribeira Funda
mesmo à distância
vejo o teu sol brilhando
vejo a tua terra batida E puída
o mesmo riso, a mesma juventude
das outras aldeias
és uma aldeia global!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Poemas inéditos
a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta
Sem comentários:
Enviar um comentário