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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

PORQUE AMO AS MANHÃS DE DEZEMBRO

 





No avelã dos meus olhos

há um bosque

espelho da minh`alma

E das cinzas em algas

do vasto rio que trespassa

as fragas dos meu rosto



deixei de ser o velho homem

para sorrir com a madrugada

E não julgar

a mão oblíqua

acariciando o meu andrajo



Manhã de Dezembro

hora de me tornar à vida

luz que ilumina o escuro deserto

da estrada que divide o meu cérebro

há anos que estou andando

entre argilas

E suor

em busca de um lago

para banhar o meu corpo

e regar a minh`alma



Manhã de Dezembro

presente de Deus

preciso destes

eternos momentos

para nunca mais chorar

das manhãs de Dezembro

como hoje

dedo de Deus

em girassol

sem pretéritos

nem ocasos

Fria, calada

desejada

manhã de Dezembro

quando bebo os raios do sol

vejo em ti

a presença do Deus divino!


domingo, 16 de outubro de 2011

ESTRANGULADOR DE SONHOS

Pássaros sem cor
singram teus lábios ondulantes
perdidos entre o mar dos teus desejos
naufragando no teu ventre concha dourada
junto à gruta onde brilha a rosa dos ventos


talvez seja apenas o fogo univalve
de te possuir como o poente que engole o sol
E te busco em caminhos que nunca percorreste
E cinzelo nas horas o teu rosto
à hora que te quero E não te encontro


no teu seio amanhecem os pássaros que não têm cor
ruborizando beijos incandescentes de outros beijos
praguejando teus desejos
desejando as tuas pragas
para ganhar teu coração!



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

DIDA



hoje encontrei alguém
que trazia nos olhos
a minha infância
E perguntou-me
porque ando de olhos fechados,
será medo que as lágrimas se desprendam
E acendam a memória
das ruas do meu pequeno ninho
miragens nimbadas de terra?

hoje encontrei Dida
de azul E de sonhos
driblando o destino

hoje o menino
não tinha os calções rasgados
não chupava o dedo para acalmar
a fome adesiva E resignada

Dida sorriu para mim E disse:
- o mundo adulto
é frio
calmo
E muito triste…


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

música E lágrimas



Ouço uma música subindo ao céu
Desnudando a minha alma
E um negro véu de lágrimas espalmadas
Cobre o meu rosto, pousada silente
Sinto a melodia assoreada penetrando a medula
Cegando a minha existência


Como um velho tísico
Saio à procura das palavras E não as encontro
Apenas réquiem, apenas níqueis de solfejos
apenas a música que sobe nas carótidas
até às colinas do meu cérebro
claves rendilhadas de espumas
das trilhas sonoras
da minha dor em convulsões

a húmida música que inunda meus olhos
que de todas as vezes que chorei foi por uma mulher
E das vezes que sorri foi por mim mesmo

Essa triste melodia são as torres que edifiquei
Nos areais da minha juventude
E me lembram que a morte
É como as ruínas de um farol
E me lembram que meus sonhos renascerão
Enquanto a chama do amor estiver viva!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pôr-Do-Sol



Flor púrpura
azeite esmeralda cor do mar
manchas endoidecidas
silhuetas pensativas
de nuvens abertas nas folhagens flamejantes do meu ser
taças douradas entornadas de laranjas ardentes

cubro meus anseios
com o manto triste do crepúsculo
que absorve as luzes
gotas de calcium

pôr-do-sol
minhas pálpebras em declives
diagonais, impressionismos
bocados de mim em espirais
mirando o sonolento poema
solto no céu

pôr-do-sol
onde as palavras caminham em linhas frescas

não há tempo na eternidade
não há centros nos espaços em suspiro
(como o meu corpo treme!)
suspiro de lâmpadas do íris
como canta menina azul da esferográfica
sobre o muro de mágoas que pende meus dedos

pôr-do-sol
rúbrica ligeira
autografada no céu
pela natureza
a mãe de todas as coisas!




segunda-feira, 27 de junho de 2011

DAS DUAS ALMAS


Minha alma poética
tem cinéreos traços do sol poente
das incertezas E mágoas de um novo dia

A minha alma poética é incenso
bailando nas cordilheiras do destino
é pássaro que voa entre ramos dolorosos

A outra alma – aquela que me faz homem
reside à beira do lago das minhas lágrimas
ela vive em silêncio, é contemplativa
A outra alma – aquela que me faz homem
busca no tempo a redenção
E a mão de Deus para me guiar

Toda a alegria da minha alma poética
não passa de sobejos de tristeza
da outra alma – aquela que me faz homem!


sexta-feira, 3 de junho de 2011

VENCIDO PELA DOR


Custa-me dizê-lo
mas sinto que fui vencido pela dor
E o inferno zela pelo meu castigo
que seja no cemitério dos desiludidos
enquanto a vencedora
cobre a alma de pergaminhos dourados!

Sinto uma dor, um nimbo corrosivo
corroendo-me as paredes da alma
minhas lágrimas incandescentes
de raiva E solidão
vão abrindo fósseis no meu rosto
por todos estes anos de inutilidade


agora só penso em dormir
E depois do sono? Que venha o abismo!
Que venham os braços da eternidade
E me levem por entre as nuvens!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

AGUARELA SALENSE




Aguarela salense

Do sol repenicado
planície amarinhada de suor
sal da terra puída
miragem lunar das eiras nuas
sal que retempera alma

maresia perfumada
grinaldas de ondas em volley
praias douradas E polidas
pontão de colunas seculares
salinas de cristais E sois hexagonais
farol adormecido
terra boa desvairando chuva
murdeira desenhando o sol desnudado
pardais que flauteiam o paraíso
salmoura vulcânica
porto na folhagem da palmeira
pedra de fogo mourejando o feijoal
palha verde ressequida
morro leste, morrinho de açúcar
filhos do monte grande da fiúra agitada
que madama a minha pele parda
espargo de quânticas avenidas
nervura das folhas do meu tronco
praias de versos dourados
cidade da virgem padecente
cerne de línguas irmanadas

não canso de contemplar teu horizonte
vestido com o mais lindo por-do-sol



segunda-feira, 2 de maio de 2011

Não tenho nada a dizer





Não tenho nada a dizer

De saco E cinzas
de lama E de fel
são as minhas vestes de celebração!
não me perguntem mais nada
não tenho nada a dizer


minha mente desdobra-se em tábua rasa
meus lábios empalhados
meu coração envolto em teias E brumas
fazem de mim um prisioneiro
nada tenho a dizer
porque estou farto da hipocrisia!

esse tempo todo lutei contra moinhos de vento
morri pelas causas perdidas
segui pegadas na areia movediça
andei atrás de luzes E cruzes
acreditei nos ideais burilados
mesmo quando incendiaram a minha casa de colmo
escrevi versos embandeirados
liderei marchas anacrónicas
entreguei meu corpo ao sacrifício

hoje meu corpo
é um jazigo de tristeza, um túmulo de desenganos
estático E mudo, meu corpo desliza no tempo
ao sabor das marés lacrimejadas de suor...

nada mais tenho a dizer!

terça-feira, 26 de abril de 2011

ONTEM EU VI A TEMPESTADE







Ontem eu vi a tempestade
retumbando na avenida
todos os trens da via láctea

eu apenas sorri à violência do seu olhar
senti arrepios grávidos de desejos
nos raios glaciais da minha mão em revoada
hórridas velas que sangram de luzes
enquanto o sol insiste em não morrer
com os tristes pássaros que reboam
buscando a primavera

enquanto passa a tempestade
colho bocados de vidro E de flores
moldo frases bordejados de suor
feéricas sonoridades de lágrimas ronceiras
que estancam a avenida!

domingo, 10 de abril de 2011

A fé E angústia







A fé E angústia
são frutos pela metade
que alimentam a alma E me lembram que sou homem
E me fazem sonhar o impossível
E me curam essa sede do infinito
E atiçam essa fome de ser sempre mais
a fé diz-me que estou perto
a angústia diz-me que ainda há muito por correr

a fé são os olhos da alma que marejam lágrimas de esperança
E a angústia o querer E não poder ter

a angústia conta os dias em desespero
a fé antecipa o pulsar da vitória

a fé E a angústia são uma mistura
de estrelas E cruzes
o agridoce que retempera a vida.




quarta-feira, 30 de março de 2011

Se





Se eu pudesse ao menos
cavalgar as colinas do teu corpo
alcançar o mundo atrás dos teus olhos
violetas marmóreas
segredos da alma estendida ao sol

se eu pudesse ser
o mar entre os teus dedos
viajar na folha que caiu do teu íntimo
E voar no azul dos teus seios

se eu pudesse ao menos
me agarrar às partículas orvalhadas
dos teus lábios em esplendor
se eu pudesse
me libertar desta solidão suspensa
sarça alourada de fogo
sonhos que pendem das calhas do meu cérebro

se eu pudesse ao menos
morrer nos teus lábios...



sábado, 5 de março de 2011

Não Sei Fingir







Sou honesto demais
acredito em tudo o que vejo


não sei fingir
não me importo com o perfume das flores
quando são belas
não me importo com a força do vento
não me importo com o rosto das gentes
cada um tem a sua vida

apesar de ser homem
nunca escondi uma lágrima
faço criancices com as minhas filhas
perco em favor dos outros
porque não sei falsear
nunca amei hipocritamente
embora inconsequente às vezes
não me importo ao que falam de mim

sou doido por tudo isso
mas sou muito feliz!


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reencontrando-me








Reencontrando-me


Hoje não senti
aquela dor no peito
dor de não contar meus sonhos
de ninguém acreditar nos meus versos
- óbito da minha angústia


não vi o sol
não relembrei coisas tristes
não pensei nenhuma vez


Hoje eu estava muito ocupado
com outras folhagens
não chorei meu estado doentio
não falei da ferida incurável da alma
de escrever versos tristes
Hoje ausentei-me de mim
para colher as flores
nos campos férteis do meu choro


Hoje
apesar de estar só
não senti a dor da solidão
nem mágoas, nem remorsos
pois ninguém riu dos meus versos


Estou reencontrando-me.








domingo, 13 de fevereiro de 2011

MINHA DOR






A minha dor
é a ponte de contentamento



poentes que deflagram as borbulhas da alma
limbos cerosos de açucenas incandescentes
que me nasceram nas setas emproadas
semeadas nas minhas mãos terrosas

ontem
balbuciei névoas do rosto plácido
de luares em colcheias de aves em procissão
radiações do cérebro na alva gotejando
teoremas da poesia boémia E sem sal
que se perdem nos sulcos da estrada
por onde passa o meu caixão sorridente

flocos do céu, neve que cai dos meus olhos
na rua do cais contando barcos
do férreo sol dançando nas colinas tolhidas
dedos de seda ágata polida

hoje
penso que sou a voz rouca dos charcos na planura do tempo
todo o vento luzeiro em crinas de veludo
penso alvores E ogivas algemadas na folhagem dos meus olhos
pulsando o gosto azedo aguarela do meu sangue

a minha dor, ponte de contentamento
seios convexos, vielas esgazeadas
sonolência das índias retidas no meu cérebro
meu suor retemperado de lágrimas eucalípticas
esplendorosamente arquitectadas
com as mãos enlouquecidas escadas de sois
em gargalhadas obtusas esvaecidas

amanhã
espero encontrar a alegria à minha janela
espero vê-la vestida de primavera
lançando centelhas de luzes prolixas
cinzelando o meu riso adormecido E sem luz
o amanhã mora longe
contudo a terra gira à volta do sol.


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DOIS POEMAS DISJUNTIVOS



De um deus subvertido

Deus? o que é isso?
um deus impotente
um deus distante
ou uma invenção humana?

será deus um sujeito sádico
com filhos predilectos
um deus que se orgulha com a desgraça dos outros
que permite a morte de lázaro para depois se engrandecer?

Deus? o que é isso?
minha alma perdida
talhada nas taras da religião evasiva…
deus é a mentira dos séculos
anestesia bíblica para quem sofre
a piada guru de bolso inchado

não dá para entender
como ama a virgem E odeia a prostituta
como protege os profetas E rejeita o gay
como alimenta o norte E deixa morrer o oriente

se deus existe eu devo odiá-lo
com toda a força do meu viver
porque deixou morrer o meu irmão
na flor da juventude
esse deus subornado pelos sacerdotes
vendilhões de bençãos
esse deus racista E moleque
que se alegra com os pobres de espírito

não sou ateu
sou contra o estado de coisas
que esse deus permite
esse deus
que manipula a poesia
E cria aberrações como hitler
que divide a palestina
transforma um jesus o costureiro
em cristo o carpinteiro

ele quer que eu diga que é trino
ele quer que lhe obedeça com a moral escravizada
por doutrinas E dogmas
mas recuso este deus que permite que se matem inocentes
sou do contra! não posso aceitar a promiscuidade
chamada livre-arbitrio
sou do contra! Não posso adorar um deus
que mata seu próprio filho
E depois venha dizer que a culpa é de judas
que permite que a serpente evada o paraíso
E depois venha dizer que a culpa é de adão

deus omni-impotente do terrorismo
deus omni-ausente da miséria africana
deus omni-inconsciente à roubalheira sacerdotal
se tu amas a humanidade, traz a justiça para todos
ou então, que venha o dilúvio de enxofre!!!




Vivendo por Fé

Senhor
se viver contigo
significa afronta E perseguição
dá-me forças para suportar
se tenho que me submeter
à cínica verborreia dos homens do púlpito
dá-me a Tua graça para resistir
se tenho que me expor
à ignomínia na feira do sarcasmo
põe em mim a Tua mão consoladora

Senhor
se o caminho do Calvário é a única via
ajuda-me a lembrar sempre
que nada vai acontecer
que Tu não possas resolver!


terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Se o Fevereiro quem vem




Se o Fevereiro que vem


Se o Fevereiro que vem
fosse um caminho
que se abria para mim
onde o destino fosse meus desejos

se o Fevereiro que vem
me trouxesse a resposta
a todos os sonhos que eu tive

se o Fevereiro que vem
tivesse ao menos a arte
de enxugar as minhas lágrimas
E de moldar o meu riso

não me importava
que me chamassem nebulosa
Procuraria a árvore
que daria as tábuas para o meu caixão
E fazia dela uma canoa
para navegar entre as conjecturas
as equações E inequações
que a vida inventa

não importava
que o nó da alma estivesse no dedo
que eu nascesse em todo o lado
que meus olhos fossem um estendal de luzes

Se o Fevereiro que vem
sorrisse para mim…



Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta