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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

VESPERA DO ANO ANO



Amanhã começa um novo ano
não sei como será a minha vida
só sei que Jesus Cristo
será meu Guia em todo o ano

Amanhã o sol brilhará de novo
trezentos E sessenta E cinco dias
enfileirados de tristeza E alegria
mas não receio porque Ele está comigo

Amanhã procurarei ser mais justo
mesmo que tenha de sofrer
me entregarei à obediência
mesmo que tenha de perder

Amanhã será simplesmente amanhã
porque para Deus o tempo não existe
amanhã estarei mais tranquilo
porque as Suas promessas nunca falham.


sábado, 11 de dezembro de 2010

A QUALQUER CRIANÇA DO MEU PAÍS




A QUALQUER CRIANÇA DO MEU PAÍS


Numa casa humilde
no silêncio da noite
dobra-me no peito
a dor de ser homem
E choro por ti
meu pequeno amigo

por ti
que arrastas no terreiro da inocência
no teu pequeno berço
lembrando o Cristo da Mangedoura

À medida que cresces
à medida da tua perdição
me lembras o Mancebo Rico
o Pródigo Ébrio à procura das bolotas
à medida que cresces
me lembras um Saulo Perseguidor
um Caifaz Cerimonial
um Jonas Desobediente
um Anjo Caído
- oh dor de ser homem!

Meu pequeno amigo
não te levas pelo grito desesperado
do meu pensamento
porque ainda me lembras
O CRISTO DA MANGEDOURA!



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

NESTA QUADRA FESTIVA DO NATAL




NESTA QUADRA FESTIVA DO NATAL


Quis reflectir minha alegria no olhar dos que passam
Mas a tristeza é bem maior
ao ver a miséria desfilando
com o coração desarmado

a quadra festiva do natal
são meus dias ameninados
choro pelas crianças sem pão E sem lar
choro pelos velhos abandonados
choro pelos adictos na encruzilhada
choro a minha solidão nos outros
pois, como eles, ninguém vê que estou só!

A quadra festiva de natal é um analgésico
Que alivia a dor mas não cura a ferida
Que branqueia a crueldade do homem
Durante os meses que passaram


Essa quadra de alegria é um restolho de hipocrisia
Cínicas oferendas, irónicas iguarias
E depois vem as janeiras, com elas o meu martírio
E só resta a palha do Menino da Manjedoura

Nesta quadra festiva, apetece-me a mendicância
Esmolar a verdadeira amizade,
Vestido de saco E de cinzas na esquina
Com a lanterna de Diógenes buscando o verdadeiro homem.


domingo, 5 de dezembro de 2010

Um Natal Diferente




Um Natal Diferente

Ante a beleza deste ceu anil
uma pobre estrebaria!
No fundo da minha alma
há uma estrela reluzindo



Vejo os anjos de harpas E saltérios
entoando hinos ao doce mistério
Vejo uma criança com olhos riscados de lágrimas
E um roseiral perfumado
repousando sobre as quimericas pinturas
de um presépio imaginário

Neste Natal, quero lagos
quero toda poesia ao meu lado
E ser um homem com os homens dentro
enxugar a lívida tristeza
dos corações que sangram

Neste Natal, corrompido de sinos E foguetes
em que os homens deambulam na escuridão do alcool
em que os meninos sonham com balões E carrocéis
quero lembrar-te da ceia dos pobres

Neste Natal, do suplício do meu querer
com as minhas pálpebras caídas
quero que me alimentes com um pouco
das migalhas da Tua perfeição

Neste Natal, Senhor
entrego-te o meu o coração
reveste-o com a infinita doçura do Teu Amor!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Quantos Azuis





Quantos Azuis


Quantos azuis suportam o céu
semeador da lúdica terra
da poeira que nasce na espuma do mar

quantos azuis do vinho enamorado
no monte de Vénus azul da minha´lma
coágulos solares dos meus dedos rosados

água fresca azulada, torrentes dos meus olhos
uma linha rendilhada de Renoir
docel arlequim de uma flor esmagada

Quantos azuis nascem de um beijo
na seiva fevereira da terra-boa florida

Pintem de azul o meu mundo
guardem todos os motivos acinzentados
todas as cores nebulosas
todas as formas lineares que não o azul celeste

pintem de azul os corais E toda ilha
cubram-me com o azul da bandeira
quando chegar o eterno sono!


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mesa de Cedro






Mesa de Cedro


Na mesa de cedro
a poeira declama a suave poesia na brisa
do telhado esburacado
um ballet perfeito de cinzas douradas
ao som da flauta do vento

na mesa de cedro
os sonhos são filmes que passam
desenhando nela
barcos à vela
sonhos de cinderella

a mesa de cedro lê os lábios esquivos
dos que sentaram nela
E pintaram de preto
o fundo das chávenas

uma velha mesa de cedro
num canto esquecido
relembra as finas botas cheirando a graxa
as conversas à toa
as mãos gordurosas
suspiros apaixonados
ferros velhos, cacos de vidro
a mandria do barman
as obscenidades do freguês
a mija do gato arrepiado

mesa de cedro
velha de cedro E lustro
manqueja com a brisa
E ri dos que a desprezam

o cedro não envelhece
os olhos é que perdem o brilho
das coisas que amaram no passado






sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Não sou poeta

Eu? Poeta?
Os meus versos só terão sentido
Quando seres superiores como tu
Ninfas inspiradoras se cruzam com meu destino

Ser poeta?
Não sou,
Apenas escrevo loucuras que o teu espírito emana

Corro atrás de palavras
Tropeço em versos E nascem poemas
Caminho nas nuvens, falo de incertezas
Cerzindo flores E lágrimas
enxertando idéias E grafias
que teus lábios me segredam
que o teu corpo escultural me ensina

Eu? Poeta?
Só enquanto existires na minha vida!



Adirena-me de amor





quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Da poesia







Da poesia
A poesia nasce nos finíssimos raios do sol
Na fímbria do mar E nas palavras ao vento
Navega em folhas de acácias E no azul do céu
Cresce como as raízes da terra lacrimejante
Ganha força nos olhares orvalhados
E como um rio corre entre os vales
E na força de um vulcão que se explode
Invade todos os cantos de um ser


A poesia é a vida em espiral de luzes
São resquícios de um passado que nos atormenta nas lembranças
Dos beijos não contados, dos beijos não recebidos
São as árvores ressequidas do nordeste
Todos os montes despidos da minha terra
São canções adormecidas, manchas coloridas de borboletas
É a minha ilha em clave de sol
É quem amo no interior das palavras

Se me vires deitado no chão
Já velho E alquebrado
Não chores meu estado deplorável
Que minha alma alimentada pela poesia
será sempre um eterno canto juvenil!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Meio Do Céu








A Meio Do Céu

A meio do céu
a minúcia de um pasto
arqueado de cabras em alabastro
cinzas douradas de um verde em desmaio
águas em silêncio
na folhagem do sol embriagado
pelo som das cigarras mudas
na fímbria da linguagem evaporada

não há mais campos verdes
nem terras lúcidas de pastagens
apenas ossos emplastrados
da chuva crestada na ausência
E cabras mortas de erva E gemidos
pastores sentados
em pedras aurindo o sol
em pérfidas ilusões

a meio do céu
um dedo de terra
chora a muralha caída
pela ferida
nos ombros da nuvem débil
enterra nos olhos
do pastor de cabras

caminho de cabras
E de gentes com fome
um silêncio erguido aos gritos
enxugando as feridas da alma

um cone em cego sacrifício
rápido E sonolento
numa veia oblíqua
do pó da terra paginada
junto aos sinais de um lábio à vela
em outros mares
que passam deslumbrados
na areia ritmada
de ilhas agonizadas
em pequeno repouso da festa no seio
de ver a terra em verdes pastos

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Para Selar O Nosso Amor






Para Selar O Nosso Amor

Trouxe-te um búzio
para ouvires o lamento do oceano
trouxe-te um beijo em claro castelo de areia
cinzelado na praia pela brisa

trouxe-te um coral de cerejas do mar
recônditos da minha alma em dilúvio
minhas queixas, minhas incertezas
relâmpagos mourejados

de ti não quero nada que não seja o teu amor
para te sugar sequiosamente entre os dedos
para te devorar selvaticamente entre os meus labios
para te possuir desalmadamente entre os braços
para te consumir ópio da minha ilusão
para selar o nosso amor


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Tua Voz





A Tua Voz


Fala-me sempre, meu amor
porque a tua voz é cântico para meus ouvidos.

Fala-me sempre!
A tua voz é suave como a brisa da primavera.
Ela me conforta E me acaricia
um sussurro de amor presente, quente
que me endoidece.

A tua voz mexe com o meu coração
faz cócegas aos meus ouvidos
enche-me de ideias
tira-me a razão

meu desejo é morrer nos teus lábios de mel
que a tua voz adoça
Presença marcante, tua voz me embala


A tua voz me enfeitiça E me prende!
A minha sede de paixão morre nos teus lábios.





INAURINDA-ME DE AMOR

sexta-feira, 12 de novembro de 2010





Ouvi Dizer Que Vais Partir


Ouvi dizer que vais partir E levas o sol
levas as ondas do mar nos teus olhos
a alegria do meu bairro
levas meu coração concha univalve
recipiendário das minhas mágoas

quando fores
o tempo há-de morrer no cais
o azul do céu cairá em prantos
meus sonhos inacabados adormecerão profundamente
meu castelo de sonhos ao teu lado cairá pesadamente.

Porque não falas no regresso?
Porque não deixas endereço?

Na tua ausência
buscar-te-ei endoidecido
colocarei anúncios nos jornais
retornarei à loucura
de te procurar em todas as esquinas E bares
E senão te encontrar
afogarei o meu viver
no oceano de dor que circunda a minha alma
deixarei os corvos banquetearem com a minha carne
molharei a terra com meu sangue
porque sem ti não sou ninguém






quinta-feira, 4 de novembro de 2010

regresso






regresso

Este aperto na alma,
esta angústia prensada nas vincos do meu rosto,
esse terror que cresce com o aproximar da noite
este medo do novo amanhecer
De não acertar o alvo
De perder tudo o que amei
Faz doer todo o meu ser
Refugio-me em labirínticas recordações adolescentes
E caio em prantos E contemplo meu desassego
Na histérica dolência do infinito


Estou farto de sinos retumbantes
Das luzes efémeras, das novelas rosadas
Dos aplausos furibundos E continuar de alma vazia

Preciso esculpir qualquer coisa
Alguma imagem que devolva a minha fé
Um altar de sacrifício onde possa renascer a esprança
Preciso voltar para mim mesmo!




Sonhos d’Alma






Sonhos d’Alma


Quero as nuvens não contadas
do entardecer nos teus seios de alabastro
quero o rumor da ilusão
de quem te quis E não é feliz

Quero a poesia toda ao meu lado
ao confessar que te amo
quero a euforia de um violão em serenata
ao te cobrir de beijos
quero-te acorrentada
na demência dos meus sonhos

quero-te
estrela de ónix
pôr-do-sol nos teus lábios
Murdeira oleada
uma girândola de sois na tua cintura
meu coração em festa
pelo amor esculpido nos teus olhos
por te amar para sempre







quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Se Quiseres





Se Quiseres

Se quiseres
passamos uma esponja sobre o passado
sepultamos as juras movediças E traiçoeiras

deixemos que o vento faça verão
que o riso seja nosso defeito

a aurora nos consumirá de alegria
as folhas da juventude
escreverão espirais de desejos incontidos

se quiseres, claro!














Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta