Olhos de luz
Um quarto arejado
paredes em relva
execráveis
uma mesa, um planície de rendas
horizontes oblíquos
caio em folha seca
bebo a escuridão num trago
violento
um quarto inclinado
no silencio da alma
nos olhos de luz
um quarto
de átomos do meu corpo
grudados em intervalos
Quem eu amo
em cubos arredendados
no vértice da aboboda distorcida
palavras polaridas
como gostaria de estar dentro de mim
quando fecho a porta do quarto
E levo-me para fora
para junto de quem amo
A minha cama é um vale
que ondula
nos lençóis de água
do meu quarto de tempo
o meu quarto
um quarto de mim
em quarto crescente
na terra poída do meu rosto
não consigo viver longe de mim
Vou-me
Vou-me no murmúrio dos mares
na doçura repentina
de ver tudo acontecer
quero ser-me sem recusas
colher minhas raízes de outras árvores
espero pacientemente
a minha vez
Pôr-Do-Sol
Flor púrpura
azeite esmeralda cor do mar
manchas endoidecidas
silhuetas pensativas
de nuvens abertas nas folhagens flamejantes do meu ser
taças douradas entornadas de laranjas ardentes
cubro meus anseios
com o manto triste do crepúsculo
que absorve as luzes
gotas de calcium
pôr-do-sol
minhas pálpebras em declives
diagonais, impressionismos
bocados de mim em espirais
mirando o sonolento poema
solto no céu
pôr-do-sol
onde as palavras caminham em linhas frescas
não há tempo na eternidade
não há centros nos espaços em suspiro
(como o meu corpo treme!)
suspiro de lâmpadas do íris
como canta menina azul da esferográfica
sobre o muro de mágoas que pende meus dedos
pôr-do-sol
rúbrica ligeira
autografada no céu
pela natureza
a mãe de todas as coisas!