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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

meia noite nos meus olhos....

Minha Dor

A minha dor
é a ponte de contentamento



poentes que deflagram as borbulhas da alma
limbos cerosos de açucenas incandescentes
que me nasceram nas setas emproadas
semeadas nas minhas mãos terrosas

ontem
balbuciei névoas do rosto plácido
de luares em colcheias de aves em procissão
radiações do cérebro na alva gotejando
teoremas da poesia boémia E sem sal
que se perdem nos sulcos do pavimento da rua
por onde passa o meu caixão sorridente

flocos do mar, neve que cai dos meus olhos
na rua do cais contando barcos
do férreo sol dançando nas colinas tolhidas
dedos de seda ágata polida

hoje
penso que sou a voz rouca dos charcos na planura do tempo
todo o vento luzeiro em crinas de veludo
penso alvores E ogivas algemadas na folhagem dos meus olhos
pulsando o gosto azedo aguarela do meu sangue

a minha dor, ponte de contentamento
seios convexos, vielas esgazeadas
sonolência das índias retidas no meu cérebro
meu suor retemperado de lágrimas eucalípticas
esplendorosamente arquitectadas
com as mãos enlouquecidas escadas de sois
em gargalhadas obtusas esvaecidas

amanhã
espero encontrar a alegria à minha janela
espero vê-la vestida de primavera
lançando centelhas de luzes prolixas
cinzelando o meu riso adormecido E sem luz
o amanhã mora longe
contudo a terra gira à volta do sol.












































As estrelas são anjos

As estrelas são anjos
pequenas frestas no telhado celeste
brilhos de lágrimas submersas no riso
fios de horas discretas
que me saem da alma
abrindo espaços na minha retina

a eternidade
se escreve
com o silêncio das estrelas

as palavras saem de mim em repuxos
E evaporam-se em restolhos de versos
formando páginas opalescentes

Porque o meu corpo morre?
(Tenho medo que a alma se zangue por isso!)
Mas quando isso acontecer
A minha alma terá estrelas
no Caminho de Volta à eternidade

vejo manchas de luzes no íntimo olhar
das ideias plácidas
navegando em meia-lua
crescente
abraçada à árvore da vida
de astros moles

no Caminho de Volta
trarei a memória no meu rosto
acenderei a escuridão
no vortex de todas as cores
tirarei o luto doloroso da minha face
ao abraçar as estrelas que me chamam

As estrelas são anjos
que me chamam ao gozo eterno















Esta vida


Esta vida não me fez ninguém!
Deu-me a juventude na madrugada
deu-me lágrimas de mantimento
deu-me furos em todas as rodas
deu-me luar ao meio-dia
deu-me cruzes emplastradas

a minha vida
é de outono E de incertezas
é um nimbo de guisas que não dei
uma estrada inacabada

esta vida
tem ponteiros de relógios afiados
à espera que o clarim troveje
sons rectilíneos besuntados
relâmpagos de espumas em gargalhadas
para me ferirem mortalmente

a minha vida despojou-se da alma
na fogueira carbonizando
colhendo espinhos das rosas que não floriram

por esta vida
vendo lágrimas na feira da desgraça
para comprar uma cova
E enterrar a minha sina















Vou-Me Disperso


Folhagem sinuosa
fragmentos de mim
estradas obtusas
vivo só
ora correndo
ora arrastando


o vento segreda-me coisas indizíveis
na voz das brisas de água murcha ao sol
vejo-me abraçado
às acácias despidas
tresloucadas
caindo de joelhos
na terra melancólica

todas as estradas são muralhas de sonhos
diadema de luzes nas vértebras da argila
pontes de meus traços alongados

vivo só
ora correndo
ora arrastando
entre olhares suspeitos
vou-me na estrada silenciosa
vou-me na estrada sinuosa
vou-me em plano inclinado
acotovelando horas
escrevendo suspiros

as estradas são veios de sangue
que pendem dos meus olhos











Mágoas

O que mais plantei na vida
foram lágrimas
que se misturam na terra
onde me sepulto ao pôr do sol

guardo as minhas mágoas
porque ninguém as quer

Mágoas de me ver
coração extenso de abismos
sonhos inumados E gestos adiados

em todas as esquinas de mim
o sol é uma lua de Inverno
o azul do céu confunde-se
com o luto dos rostos fechados
que se cruzam comigo
no tabuleiro da vida

Mágoas que sinto
flores que me deram
aves predadoras
ensombrando a minha memória
respigando cinzas na minh`alma

mágoas de me ver
na alma dos pobres
no olhar agastado do velho sem tecto
dos jornais ensanguentados

a dor enche-me de mágoas
as mágoas enchem-me de lágrimas
que se misturam com a terra
onde me apago todo o dia.

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Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta