Páginas

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Raiva misteriosa

Outra vez eu sinto
essa raiva misteriosa
de dizer a Deus
tanta barbaridade
no anil do sol
na âncora dos tijolos alquebrados
das lanternas cegas de Diógenes
das luzes enviezadas do futuro

a raiva misteriosa
dos poetas politizados
dos políticos poetizados
dessa massa informe
que é a indigência
dessa palhaçada toda
de hipocrisia E smoking

Passei o dia inteiro
com essa raiva misteriosa
amanhã terei mais raiva
um manancial de raiva
indesculpável raiva
de procurar por Deus
dentro dos santos



II

Vou depressa
à procura de sonhos E da paz
esquecer essa raiva misteriosa
E morrer de vergonha
de todos aqueles que passaram por mim
esplendorosamente felizes
fogosamente distraídos
sinto-me inadequado
às voltas que o mundo dá
sinto-me perdido
uma estátua esculpida às dentadas
um vazio no tempo em gargalhadas

vou olhar para o sol
E fingir que é sombra.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta