terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Reencontrando-me
Reencontrando-me
Hoje não senti
aquela dor no peito
dor de não contar meus sonhos
de ninguém acreditar nos meus versos
- óbito da minha angústia
não vi o sol
não relembrei coisas tristes
não pensei nenhuma vez
Hoje eu estava muito ocupado
com outras folhagens
não chorei meu estado doentio
não falei da ferida incurável da alma
de escrever versos tristes
Hoje ausentei-me de mim
para colher as flores
nos campos férteis do meu choro
Hoje
apesar de estar só
não senti a dor da solidão
nem mágoas, nem remorsos
pois ninguém riu dos meus versos
Estou reencontrando-me.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
MINHA DOR
A minha dor
é a ponte de contentamento
poentes que deflagram as borbulhas da alma
limbos cerosos de açucenas incandescentes
que me nasceram nas setas emproadas
semeadas nas minhas mãos terrosas
ontem
balbuciei névoas do rosto plácido
de luares em colcheias de aves em procissão
radiações do cérebro na alva gotejando
teoremas da poesia boémia E sem sal
que se perdem nos sulcos da estrada
por onde passa o meu caixão sorridente
flocos do céu, neve que cai dos meus olhos
na rua do cais contando barcos
do férreo sol dançando nas colinas tolhidas
dedos de seda ágata polida
hoje
penso que sou a voz rouca dos charcos na planura do tempo
todo o vento luzeiro em crinas de veludo
penso alvores E ogivas algemadas na folhagem dos meus olhos
pulsando o gosto azedo aguarela do meu sangue
a minha dor, ponte de contentamento
seios convexos, vielas esgazeadas
sonolência das índias retidas no meu cérebro
meu suor retemperado de lágrimas eucalípticas
esplendorosamente arquitectadas
com as mãos enlouquecidas escadas de sois
em gargalhadas obtusas esvaecidas
amanhã
espero encontrar a alegria à minha janela
espero vê-la vestida de primavera
lançando centelhas de luzes prolixas
cinzelando o meu riso adormecido E sem luz
o amanhã mora longe
contudo a terra gira à volta do sol.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
DOIS POEMAS DISJUNTIVOS
De um deus subvertido
Deus? o que é isso?
um deus impotente
um deus distante
ou uma invenção humana?
será deus um sujeito sádico
com filhos predilectos
um deus que se orgulha com a desgraça dos outros
que permite a morte de lázaro para depois se engrandecer?
Deus? o que é isso?
minha alma perdida
talhada nas taras da religião evasiva…
deus é a mentira dos séculos
anestesia bíblica para quem sofre
a piada guru de bolso inchado
não dá para entender
como ama a virgem E odeia a prostituta
como protege os profetas E rejeita o gay
como alimenta o norte E deixa morrer o oriente
se deus existe eu devo odiá-lo
com toda a força do meu viver
porque deixou morrer o meu irmão
na flor da juventude
esse deus subornado pelos sacerdotes
vendilhões de bençãos
esse deus racista E moleque
que se alegra com os pobres de espírito
não sou ateu
sou contra o estado de coisas
que esse deus permite
esse deus
que manipula a poesia
E cria aberrações como hitler
que divide a palestina
transforma um jesus o costureiro
em cristo o carpinteiro
ele quer que eu diga que é trino
ele quer que lhe obedeça com a moral escravizada
por doutrinas E dogmas
mas recuso este deus que permite que se matem inocentes
sou do contra! não posso aceitar a promiscuidade
chamada livre-arbitrio
sou do contra! Não posso adorar um deus
que mata seu próprio filho
E depois venha dizer que a culpa é de judas
que permite que a serpente evada o paraíso
E depois venha dizer que a culpa é de adão
deus omni-impotente do terrorismo
deus omni-ausente da miséria africana
deus omni-inconsciente à roubalheira sacerdotal
se tu amas a humanidade, traz a justiça para todos
ou então, que venha o dilúvio de enxofre!!!
Vivendo por Fé
Senhor
se viver contigo
significa afronta E perseguição
dá-me forças para suportar
se tenho que me submeter
à cínica verborreia dos homens do púlpito
dá-me a Tua graça para resistir
se tenho que me expor
à ignomínia na feira do sarcasmo
põe em mim a Tua mão consoladora
Senhor
se o caminho do Calvário é a única via
ajuda-me a lembrar sempre
que nada vai acontecer
que Tu não possas resolver!
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Poemas inéditos
a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta