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quarta-feira, 18 de maio de 2011

AGUARELA SALENSE




Aguarela salense

Do sol repenicado
planície amarinhada de suor
sal da terra puída
miragem lunar das eiras nuas
sal que retempera alma

maresia perfumada
grinaldas de ondas em volley
praias douradas E polidas
pontão de colunas seculares
salinas de cristais E sois hexagonais
farol adormecido
terra boa desvairando chuva
murdeira desenhando o sol desnudado
pardais que flauteiam o paraíso
salmoura vulcânica
porto na folhagem da palmeira
pedra de fogo mourejando o feijoal
palha verde ressequida
morro leste, morrinho de açúcar
filhos do monte grande da fiúra agitada
que madama a minha pele parda
espargo de quânticas avenidas
nervura das folhas do meu tronco
praias de versos dourados
cidade da virgem padecente
cerne de línguas irmanadas

não canso de contemplar teu horizonte
vestido com o mais lindo por-do-sol



segunda-feira, 2 de maio de 2011

Não tenho nada a dizer





Não tenho nada a dizer

De saco E cinzas
de lama E de fel
são as minhas vestes de celebração!
não me perguntem mais nada
não tenho nada a dizer


minha mente desdobra-se em tábua rasa
meus lábios empalhados
meu coração envolto em teias E brumas
fazem de mim um prisioneiro
nada tenho a dizer
porque estou farto da hipocrisia!

esse tempo todo lutei contra moinhos de vento
morri pelas causas perdidas
segui pegadas na areia movediça
andei atrás de luzes E cruzes
acreditei nos ideais burilados
mesmo quando incendiaram a minha casa de colmo
escrevi versos embandeirados
liderei marchas anacrónicas
entreguei meu corpo ao sacrifício

hoje meu corpo
é um jazigo de tristeza, um túmulo de desenganos
estático E mudo, meu corpo desliza no tempo
ao sabor das marés lacrimejadas de suor...

nada mais tenho a dizer!

Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta