quarta-feira, 31 de março de 2010
Eu Caminhava com as ideias
Eu caminhava com as ideias
eram tantas ideias
um exército de ideias
dando voltas no meu cérebro
tenho o tamanho dos meus palmos
palmos eloquentes
de um só rosto
eu falava com as minhas ideias
de novos mundos
de cisnes loucos
ideias
amores, ventos E lágrimas
bocados de mim
Eu caminhava com as ideias
na voz
hoje arrosto-me com elas
fios de sombra
dedos que perfuram meus olhos
modo cruel de esquecer a vida
minhas ideias…
deixem-me chorar!
eram tantas ideias
um exército de ideias
dando voltas no meu cérebro
tenho o tamanho dos meus palmos
palmos eloquentes
de um só rosto
eu falava com as minhas ideias
de novos mundos
de cisnes loucos
ideias
amores, ventos E lágrimas
bocados de mim
Eu caminhava com as ideias
na voz
hoje arrosto-me com elas
fios de sombra
dedos que perfuram meus olhos
modo cruel de esquecer a vida
minhas ideias…
deixem-me chorar!
quinta-feira, 25 de março de 2010
Invisível
A caminho da folhagem
cai a lucidez do começo a meio
um deserto branco
de um abismo violeta
2. palavras em sulcos baços
- único no espaço
com diademas
3. jactos de pedra
cascatas de suores
silêncio oblíquo no vazio
de um corpo cinzento
epiléptico
4. cortei a distancia
de um desejo
5. olhos que piscam
círculos de homens
em segredos húmidos
de cobres gotejando
dos lábios incandescentes
efígies malogrados
de glórias à distancia
experiência de um espaço
em contornos
espumando
mistérios na superfície do vago
meneando o perfil do ar
6. A sombra do vento
uma presença inexacta
estática
de mãos estendidas
mendigando ostras E níqueis
corpos de mulher
como prismas ensolaradas
nada de sonhos inclinados
na penumbra de outros sonhos
7. Ao dormires
não deixa o teu corpo
à distância
8. cadeiras emolduradas
cabeços submersos
de um mastro
desmedido
mesmo na face do desespero
há pinturas em declives
longe dos ramos distorcidos
de uma mão delicada
9. Bebo a vida ao teu lado
quando dobras os joelhos
sobre o sol do meu corpo iluminado
nas entranhas
de um gesto eclipsado
nas colinas dos teus seios
brincas com as pontas dos meus dedos
E minhas retinas irrequietas
como insectos em gargalhadas
enlouquecidas
10. Vem me abraçar
E morrer no meu riso
sem sons exilados
sem quases embriagados
de frases em vertigens
11. A cada passo
vertia sangue das nuvens
abertas pela língua
no coro ensalivado
gotas de tristeza
carpir desolado
festejando a sua dor
sempre só
12. Certa vez numa loja
algemaram o pulso
da terra macerada
de músculos pulverizados
apenas uma ave chorando
13. Uma tiara deslizava
nos meus lábios
chamas de vesúvio
acariciando o meu rosto
beijos assentados
bebe-me nos teus olhos
pedras que trazem meu sangue
atrás de uma bola de trapo
no futebol de rua
onde meu primeiro beijo
enterrou-se nos lábios da Elsa
dava sinais de homem
da terra no rosto
brincando de índio
na ribeira funda
pedaços de vidro
abóbadas confusas
de um homem ser criança
II
1. Na próxima
estação da vida
hei-de te acordar
aos gritos inocentes
das crianças abandonadas
hei-de acender os teus olhos
para ver os herdeiros
do caos insolente
assombrado de desespero
na aproxima estação
o buraco no teu cérebro
terá o tamanho da tua consciência
estarás velho demais
para fugir de ti mesmo
lembrarás o solo besuntado
pelas guerras
pelo sangue
pelo horror
pela podridão
pelos zombies
Arrastarás o teu ventre inflamado
nas cicatrizes da terra
E as plantas crescerão nas tuas ventas
os pássaros aninhar-se-ão no teu ventre
espantalho
na próxima estação
todas as crianças abortadas
todas as vitimas da tua espada
acordar-te-ão no meio da noite
E serás cinza polvilhada
de suor
de angústia
o teu verde fétido
far-te-á monstro encurvado
2. À beira da estrada
deixei meus desejos
caídos E soídos de poeira
aos que passam por mim
não quero a compaixão de ninguém
meu Inverno não é eterno
minha ferida não é de morte
3. Sou um homem triste
apenas isso
4. Lembro o meu irmão que morreu
nas mãos dos médicos
durante uma operação muito simples
lembro a minha aldeia
exilada
onde enterrei meus sonhos
porque tenho de sofrer
mesmo estando curado?
porque tenho de chorar
as lembranças do passado?
porquê?
5. apaixonado pela vida
não tenho pretéritos
nem ocasos
nem sábados embriagados
não tenho ilusões
para me distrair
por isso vivo dias
como dádivas do céu
6. o tempo é uma carruagem
rolando sobre a estrada
do meu corpo em chagas
triturando meus ossos
calcinando as juntas dos meus anos
7. Deixei de acreditar em lágrimas
esqueci a arte de sorrir
sou triste
um mocho em agonia
nasci de uma aventura
entre duas ondas
de correntes opostas
sou apenas um engano
8. Ontem li o jornal
E os louvores da ciência
que inventou o futuro incerto
li do assassino que matou
a própria mãe
da janela da minha casa
vejo a fome correndo descalço
vejo o ódio
dançando sobre o cadáver
de um policia furado de balas
9. Bom dia mundo dos homens
bom dia, fábrica de desgraças
máquinas complicadas
energia E incêndios
transportes E acidentes
bancos E bancarrotas
mundo moderno E fome antiga
laboratórios E monstruários
bom dia, esfacelados pelas máquinas
ladrões-puritanos
todos os que acordam lúcidos
cães porosos, sovacos de suor
olhos desorbitados
bocados de aço na perna amputada
engenhos e bárbaros E dentes desalinhados
coloquem vossos rostos
nos contentores
cobres nas mãos carentes
Empurrem a vida com raiva
Empurrem E matem uns E outros
civilizadamente
cai a lucidez do começo a meio
um deserto branco
de um abismo violeta
2. palavras em sulcos baços
- único no espaço
com diademas
3. jactos de pedra
cascatas de suores
silêncio oblíquo no vazio
de um corpo cinzento
epiléptico
4. cortei a distancia
de um desejo
5. olhos que piscam
círculos de homens
em segredos húmidos
de cobres gotejando
dos lábios incandescentes
efígies malogrados
de glórias à distancia
experiência de um espaço
em contornos
espumando
mistérios na superfície do vago
meneando o perfil do ar
6. A sombra do vento
uma presença inexacta
estática
de mãos estendidas
mendigando ostras E níqueis
corpos de mulher
como prismas ensolaradas
nada de sonhos inclinados
na penumbra de outros sonhos
7. Ao dormires
não deixa o teu corpo
à distância
8. cadeiras emolduradas
cabeços submersos
de um mastro
desmedido
mesmo na face do desespero
há pinturas em declives
longe dos ramos distorcidos
de uma mão delicada
9. Bebo a vida ao teu lado
quando dobras os joelhos
sobre o sol do meu corpo iluminado
nas entranhas
de um gesto eclipsado
nas colinas dos teus seios
brincas com as pontas dos meus dedos
E minhas retinas irrequietas
como insectos em gargalhadas
enlouquecidas
10. Vem me abraçar
E morrer no meu riso
sem sons exilados
sem quases embriagados
de frases em vertigens
11. A cada passo
vertia sangue das nuvens
abertas pela língua
no coro ensalivado
gotas de tristeza
carpir desolado
festejando a sua dor
sempre só
12. Certa vez numa loja
algemaram o pulso
da terra macerada
de músculos pulverizados
apenas uma ave chorando
13. Uma tiara deslizava
nos meus lábios
chamas de vesúvio
acariciando o meu rosto
beijos assentados
bebe-me nos teus olhos
pedras que trazem meu sangue
atrás de uma bola de trapo
no futebol de rua
onde meu primeiro beijo
enterrou-se nos lábios da Elsa
dava sinais de homem
da terra no rosto
brincando de índio
na ribeira funda
pedaços de vidro
abóbadas confusas
de um homem ser criança
II
1. Na próxima
estação da vida
hei-de te acordar
aos gritos inocentes
das crianças abandonadas
hei-de acender os teus olhos
para ver os herdeiros
do caos insolente
assombrado de desespero
na aproxima estação
o buraco no teu cérebro
terá o tamanho da tua consciência
estarás velho demais
para fugir de ti mesmo
lembrarás o solo besuntado
pelas guerras
pelo sangue
pelo horror
pela podridão
pelos zombies
Arrastarás o teu ventre inflamado
nas cicatrizes da terra
E as plantas crescerão nas tuas ventas
os pássaros aninhar-se-ão no teu ventre
espantalho
na próxima estação
todas as crianças abortadas
todas as vitimas da tua espada
acordar-te-ão no meio da noite
E serás cinza polvilhada
de suor
de angústia
o teu verde fétido
far-te-á monstro encurvado
2. À beira da estrada
deixei meus desejos
caídos E soídos de poeira
aos que passam por mim
não quero a compaixão de ninguém
meu Inverno não é eterno
minha ferida não é de morte
3. Sou um homem triste
apenas isso
4. Lembro o meu irmão que morreu
nas mãos dos médicos
durante uma operação muito simples
lembro a minha aldeia
exilada
onde enterrei meus sonhos
porque tenho de sofrer
mesmo estando curado?
porque tenho de chorar
as lembranças do passado?
porquê?
5. apaixonado pela vida
não tenho pretéritos
nem ocasos
nem sábados embriagados
não tenho ilusões
para me distrair
por isso vivo dias
como dádivas do céu
6. o tempo é uma carruagem
rolando sobre a estrada
do meu corpo em chagas
triturando meus ossos
calcinando as juntas dos meus anos
7. Deixei de acreditar em lágrimas
esqueci a arte de sorrir
sou triste
um mocho em agonia
nasci de uma aventura
entre duas ondas
de correntes opostas
sou apenas um engano
8. Ontem li o jornal
E os louvores da ciência
que inventou o futuro incerto
li do assassino que matou
a própria mãe
da janela da minha casa
vejo a fome correndo descalço
vejo o ódio
dançando sobre o cadáver
de um policia furado de balas
9. Bom dia mundo dos homens
bom dia, fábrica de desgraças
máquinas complicadas
energia E incêndios
transportes E acidentes
bancos E bancarrotas
mundo moderno E fome antiga
laboratórios E monstruários
bom dia, esfacelados pelas máquinas
ladrões-puritanos
todos os que acordam lúcidos
cães porosos, sovacos de suor
olhos desorbitados
bocados de aço na perna amputada
engenhos e bárbaros E dentes desalinhados
coloquem vossos rostos
nos contentores
cobres nas mãos carentes
Empurrem a vida com raiva
Empurrem E matem uns E outros
civilizadamente
Além
Para além da terra
um horizonte trémulo
serpente estendido
rectilíneo
não há terra
apenas silêncio
lágrimas
saudades
o que não vejo
está dentro de mim
sinto-O
Para além do mar
um barco è deriva
na alma do vento
o mar não existe
fora de mim
Meu universo
afogado no espaço
dos mistérios
da minha origem
Para além do céu
peugadas de um anjo
silhuetas de luzes
formando outros eus
o céu está dentro de mim
a eternidade
o amor
a vida
Eu sou a curva
da existência
que cai como luz
na Criação
Para além do ser
fragas do homem
a infinitude de Deus
um horizonte trémulo
serpente estendido
rectilíneo
não há terra
apenas silêncio
lágrimas
saudades
o que não vejo
está dentro de mim
sinto-O
Para além do mar
um barco è deriva
na alma do vento
o mar não existe
fora de mim
Meu universo
afogado no espaço
dos mistérios
da minha origem
Para além do céu
peugadas de um anjo
silhuetas de luzes
formando outros eus
o céu está dentro de mim
a eternidade
o amor
a vida
Eu sou a curva
da existência
que cai como luz
na Criação
Para além do ser
fragas do homem
a infinitude de Deus
quarta-feira, 24 de março de 2010
segunda-feira, 22 de março de 2010
A vida no intimo do ser
I
Tudo o que eu quis
era estar na solidão dos outros
acampar as fragas de outro ser
que fosse apenas uma curva
tudo o que eu quis
só existe dentro de mim
por mim E mais ninguém
fragmentos de átomos azuis
que caem dos meus olhos
Sou apenas o espectro de outro ser
fiapos de nuvens de mim
fui plantado em terra húmida
com barro E sangue
musgos E mágoas
de monstros açucenas
em todas as paragens da vivência
sorvendo o gosto salgado do mel
que escorre dos olhos da vida
a solidão é apenas
o adubo das minhas raízes
A morte é um orvalho
de Outonos em intervalos
dos pequenos pontos do i
Gasto horas nas vertentes
vendo a vida a passar de tabuletas
enchendo o meu fosso de lembranças
que passam por mim
deixando peugadas no meu cérebro
II
A vida dos homens é erigir cruzes
criar estrelas em hiroxima
feiras de dentaduras
pequenos eus em outros eus
III
Vejo E velejo
veleiros em fila
subindo ondas que o mar inventa
a distribuir fados
Porque não leram as vítimas da guerra?
Porque não plantaram árvores
na alma do homem?
Na minha mesa
há uma ribeira endoidecida
deslizando dos meus olhos
dividindo as colinas
do meu rosto estatuado
Desde sempre que não me vejo
Meio dia nos meus olhos
meia noite na minha alma
horas mortas dos meus sentido
Cais azulejo meus impulsos
mágoas apócrifas
…
Tudo o que eu quis
era estar na solidão dos outros
acampar as fragas de outro ser
que fosse apenas uma curva
tudo o que eu quis
só existe dentro de mim
por mim E mais ninguém
fragmentos de átomos azuis
que caem dos meus olhos
Sou apenas o espectro de outro ser
fiapos de nuvens de mim
fui plantado em terra húmida
com barro E sangue
musgos E mágoas
de monstros açucenas
em todas as paragens da vivência
sorvendo o gosto salgado do mel
que escorre dos olhos da vida
a solidão é apenas
o adubo das minhas raízes
A morte é um orvalho
de Outonos em intervalos
dos pequenos pontos do i
Gasto horas nas vertentes
vendo a vida a passar de tabuletas
enchendo o meu fosso de lembranças
que passam por mim
deixando peugadas no meu cérebro
II
A vida dos homens é erigir cruzes
criar estrelas em hiroxima
feiras de dentaduras
pequenos eus em outros eus
III
Vejo E velejo
veleiros em fila
subindo ondas que o mar inventa
a distribuir fados
Porque não leram as vítimas da guerra?
Porque não plantaram árvores
na alma do homem?
Na minha mesa
há uma ribeira endoidecida
deslizando dos meus olhos
dividindo as colinas
do meu rosto estatuado
Desde sempre que não me vejo
Meio dia nos meus olhos
meia noite na minha alma
horas mortas dos meus sentido
Cais azulejo meus impulsos
mágoas apócrifas
…
Trivialidades
Ao pé de uma amendoeira
passei por mim
ocasionalmente
tracejando no ar
a nua saudade dos belos tempos
em que subia às árvores corcundas
castigadas pelo vento
uma amendoeira
de um verde brutal
ao pé de um lago seco
onde enterrei a minha pressa
No ramo de cima
numa conversa entretida
um pássaro recorda os seus dias
num trinar de flauta embriagada
borbulhas que voejam
à minha volta dos cinco anos
contando lagartas coloridas
tristes E vagarosas
esperando o dia de anjo
em que as asas se abrem
as folhas das amendoeiras caem
sorvendo o sal do meu rosto
Cada folha que cai
faz cair um sonho meu
mas sem nunca perturbar
a criança que há dentro de mim
passei por mim
ocasionalmente
tracejando no ar
a nua saudade dos belos tempos
em que subia às árvores corcundas
castigadas pelo vento
uma amendoeira
de um verde brutal
ao pé de um lago seco
onde enterrei a minha pressa
No ramo de cima
numa conversa entretida
um pássaro recorda os seus dias
num trinar de flauta embriagada
borbulhas que voejam
à minha volta dos cinco anos
contando lagartas coloridas
tristes E vagarosas
esperando o dia de anjo
em que as asas se abrem
as folhas das amendoeiras caem
sorvendo o sal do meu rosto
Cada folha que cai
faz cair um sonho meu
mas sem nunca perturbar
a criança que há dentro de mim
Por dentro
Olhando a dor, esplendor de luz
colada ao corpo
nos suspiros da terra quente
perpassam séculos por instantes
na minha memória de luzes muradas
na minha retina distorcida
Meus dedos dançam
cisnes num eterno adeus
há um mundo atrás de mim
onde o sol são as risadas de menino
as estrelas vestem-se de prata
todas as noites são ilustres
tapetes orientais
não se sabe porque há braços no pensamento
com medo de dizer palavras
impressas na memória
E ser como se nada fosse
Sinto-me nu
com as minhas ideias
colada ao corpo
nos suspiros da terra quente
perpassam séculos por instantes
na minha memória de luzes muradas
na minha retina distorcida
Meus dedos dançam
cisnes num eterno adeus
há um mundo atrás de mim
onde o sol são as risadas de menino
as estrelas vestem-se de prata
todas as noites são ilustres
tapetes orientais
não se sabe porque há braços no pensamento
com medo de dizer palavras
impressas na memória
E ser como se nada fosse
Sinto-me nu
com as minhas ideias
sexta-feira, 19 de março de 2010
Pensamentos
Estou pensando
que há milhões de pessoas
pensando que pensam
pensam como eu
pensam em tudo como se fosse nada
E pela noite adentro
estátua de Rodin
entre mugidos metálicos
aves voando em espiral
ao som fragmentado
de pensamentos na veia encharcada
meus pensamentos
gotas de chuva em telhados de zinco
meus sonhos em voo
pensamentos sem norte
atravessam concretos E cruzes
passam de mim em mim
nas dobras do meu cérebro
navegando em folhas secas
em palavras confusas E grifadas
enquanto penso
o tempo dança
não quero aplausos
meus sonhos não andam atrás de foguetes
mas plantando flores de todas as cores
regadas com a água que cai
do céu dos meus olhos
não quero luzes de plateias incendiadas
não busco coisas não pensadas
enquanto escrevo
o mundo dá voltas
E há-de me encontrar
nesse canto a pensar que penso
que milhares de pessoas pensam
Se o Fevereiro quem vem
Se o Fevereiro que vem
fosse um caminho
que se abria para mim
onde o destino fosse meus desejos
se o Fevereiro que vem
me trouxesse a resposta
a todos os sonhos que eu tive
se o Fevereiro que vem
tivesse ao menos a arte
de enxugar as minhas lágrimas
E de moldar o meu sorriso
não me importava
que me chamassem nebulosa
Procuraria a árvore
que daria as tábuas para o meu caixão
E fazia dela uma canoa
para navegar entre as conjecturas
as equações E inequações
que a vida inventa
não importava
que o nó da alma estivesse no dedo
que eu nascesse em todo o lado
que meus olhos fossem um estendal de luzes
Se o Fevereiro que vem
sorrisse para mim…
Não Sei Fingir
Sou honesto demais
acredito em tudo o que vejo
não sei fingir
não me importo com o perfume das flores
quando são belas
não me importo com a força do vento
não me importo com o rosto das gentes
cada um tem a sua vida
apesar de ser homem
nunca escondi uma lágrima
faço criancices com as minhas filhas
perco em favor dos outros
porque não sei falsear
nunca amei hipocritamente
embora inconsequente às vezes
não me importo ao que falam de mim
sou doido por tudo isso
mas sou muito feliz!
Por dentro
Olhando a dor, esplendor de luz
colada ao corpo
nos suspiros da terra quente
perpassam séculos por instantes
na minha memória de luzes muradas
na minha retina distorcida
Meus dedos dançam
cisnes num eterno adeus
há um mundo atrás de mim
onde o sol são as risadas de menino
as estrelas vestem-se de prata
todas as noites são ilustres
tapetes orientais
não se sabe porque há braços no pensamento
com medo de dizer palavras
impressas na memória
E ser como se nada fosse
Sinto-me nu
com as minhas ideias
Trivialidades
Ao pé de uma amendoeira
passei por mim
ocasionalmente
tracejando no ar
a nua saudade dos belos tempos
em que subia às árvores corcundas
castigadas pelo vento
uma amendoeira
de um verde brutal
ao pé de um lago seco
onde enterrei a minha pressa
No ramo de cima
numa conversa entretida
um pássaro recorda os seus dias
num trinar de flauta embriagada
borbulhas que voejam
à minha volta dos cinco anos
contando lagartas coloridas
tristes E vagarosas
esperando o dia de anjo
em que as asas se abrem
as folhas das amendoeiras caem
sorvendo o sal do meu rosto
Cada folha que cai
faz cair um sonho meu
mas sem nunca perturbar
a criança que há dentro de mim
A vida no intimo do ser
I
Tudo o que eu quis
era estar na solidão dos outros
acampar as fragas de outro ser
que fosse apenas uma curva
tudo o que eu quis
só existe dentro de mim
por mim E mais ninguém
fragmentos de átomos azuis
que caem dos meus olhos
Sou apenas o espectro de outro ser
fiapos de nuvens de mim
fui plantado em terra húmida
com barro E sangue
musgos E mágoas
de monstros açucenas
em todas as paragens da vivência
sorvendo o gosto salgado do mel
que escorre dos olhos da vida
a solidão é apenas
o adubo das minhas raízes
A morte é um orvalho
de Outonos em intervalos
dos pequenos pontos do i
Gasto horas nas vertentes
vendo a vida a passar de tabuletas
enchendo o meu fosso de lembranças
que passam por mim
deixando peugadas no meu cérebro
II
A vida dos homens é erigir cruzes
criar estrelas em hiroxima
feiras de dentaduras
pequenos eus em outros eus
III
Vejo E velejo
veleiros em fila
subindo ondas que o mar inventa
a distribuir fados
Porque não leram as vítimas da guerra?
Porque não plantaram árvores
na alma do homem?
Na minha mesa
há uma ribeira endoidecida
deslizando dos meus olhos
dividindo as colinas
do meu rosto estatuado
Desde sempre que não me vejo
Meio dia nos meus olhos
meia noite na minha alma
horas mortas dos meus sentido
Cais azulejo meus impulsos
mágoas apócrifas
…
Além
Para além da terra
um horizonte trémulo
serpente estendido
rectilíneo
não há terra
apenas silêncio
lágrimas
saudades
o que não vejo
está dentro de mim
sinto-O
Para além do mar
um barco è deriva
na alma do vento
o mar não existe
fora de mim
Meu universo
afogado no espaço
dos mistérios
da minha origem
Para além do céu
peugadas de um anjo
silhuetas de luzes
formando outros eus
o céu está dentro de mim
a eternidade
o amor
a vida
Eu sou a curva
da existência
que cai como luz
na Criação
Para além do ser
fragas do homem
a infinitude de Deus
Invisível
A caminho da folhagem
cai a lucidez do começo a meio
um deserto branco
de um abismo violeta
2. palavras em sulcos baços
- único no espaço
com diademas
3. jactos de pedra
cascatas de suores
silêncio oblíquo no vazio
de um corpo cinzento
epiléptico
4. cortei a distancia
de um desejo
5. olhos que piscam
círculos de homens
em segredos húmidos
de cobres gotejando
dos lábios incandescentes
efígies malogrados
de glórias à distancia
experiência de um espaço
em contornos
espumando
mistérios na superfície do vago
meneando o perfil do ar
6. A sombra do vento
uma presença inexacta
estática
de mãos estendidas
mendigando ostras E níqueis
corpos de mulher
como prismas ensolaradas
nada de sonhos inclinados
na penumbra de outros sonhos
7. Ao dormires
não deixa o teu corpo
à distância
8. cadeiras emolduradas
cabeços submersos
de um mastro
desmedido
mesmo na face do desespero
há pinturas em declives
longe dos ramos distorcidos
de uma mão delicada
9. Bebo a vida ao teu lado
quando dobras os joelhos
sobre o sol do meu corpo iluminado
nas entranhas
de um gesto eclipsado
nas colinas dos teus seios
brincas com as pontas dos meus dedos
E minhas retinas irrequietas
como insectos em gargalhadas
enlouquecidas
10. Vem me abraçar
E morrer no meu riso
sem sons exilados
sem quases embriagados
de frases em vertigens
11. A cada passo
vertia sangue das nuvens
abertas pela língua
no coro ensalivado
gotas de tristeza
carpir desolado
festejando a sua dor
sempre só
12. Certa vez numa loja
algemaram o pulso
da terra macerada
de músculos pulverizados
apenas uma ave chorando
13. Uma tiara deslizava
nos meus lábios
chamas de vesúvio
acariciando o meu rosto
beijos assentados
bebe-me nos teus olhos
pedras que trazem meu sangue
atrás de uma bola de trapo
no futebol de rua
onde meu primeiro beijo
enterrou-se nos lábios da Elsa
dava sinais de homem
da terra no rosto
brincando de índio
na ribeira funda
pedaços de vidro
abóbadas confusas
de um homem ser criança
II
1. Na próxima
estação da vida
hei-de te acordar
aos gritos inocentes
das crianças abandonadas
hei-de acender os teus olhos
para ver os herdeiros
do caos insolente
assombrado de desespero
na aproxima estação
o buraco no teu cérebro
terá o tamanho da tua consciência
estarás velho demais
para fugir de ti mesmo
lembrarás o solo besuntado
pelas guerras
pelo sangue
pelo horror
pela podridão
pelos zombies
Arrastarás o teu ventre inflamado
nas cicatrizes da terra
E as plantas crescerão nas tuas ventas
os pássaros aninhar-se-ão no teu ventre
espantalho
na próxima estação
todas as crianças abortadas
todas as vitimas da tua espada
acordar-te-ão no meio da noite
E serás cinza polvilhada
de suor
de angústia
o teu verde fétido
far-te-á monstro encurvado
2. À beira da estrada
deixei meus desejos
caídos E soídos de poeira
aos que passam por mim
não quero a compaixão de ninguém
meu Inverno não é eterno
minha ferida não é de morte
3. Sou um homem triste
apenas isso
4. Lembro o meu irmão que morreu
nas mãos dos médicos
durante uma operação muito simples
lembro a minha aldeia
exilada
onde enterrei meus sonhos
porque tenho de sofrer
mesmo estando curado?
porque tenho de chorar
as lembranças do passado?
porquê?
5. apaixonado pela vida
não tenho pretéritos
nem ocasos
nem sábados embriagados
não tenho ilusões
para me distrair
por isso vivo dias
como dádivas do céu
6. o tempo é uma carruagem
rolando sobre a estrada
do meu corpo em chagas
triturando meus ossos
calcinando as juntas dos meus anos
7. Deixei de acreditar em lágrimas
esqueci a arte de sorrir
sou triste
um mocho em agonia
nasci de uma aventura
entre duas ondas
de correntes opostas
sou apenas um engano
8. Ontem li o jornal
E os louvores da ciência
que inventou o futuro incerto
li do assassino que matou
a própria mãe
da janela da minha casa
vejo a fome correndo descalço
vejo o ódio
dançando sobre o cadáver
de um policia furado de balas
9. Bom dia mundo dos homens
bom dia, fábrica de desgraças
máquinas complicadas
energia E incêndios
transportes E acidentes
bancos E bancarrotas
mundo moderno E fome antiga
laboratórios E monstruários
bom dia, esfacelados pelas máquinas
ladrões-puritanos
todos os que acordam lúcidos
cães porosos, sovacos de suor
olhos desorbitados
bocados de aço na perna amputada
engenhos e bárbaros E dentes desalinhados
coloquem vossos rostos
nos contentores
cobres nas mãos carentes
Empurrem a vida com raiva
Empurrem E matem uns E outros
civilizadamente
Estou pensando
que há milhões de pessoas
pensando que pensam
pensam como eu
pensam em tudo como se fosse nada
E pela noite adentro
estátua de Rodin
entre mugidos metálicos
aves voando em espiral
ao som fragmentado
de pensamentos na veia encharcada
meus pensamentos
gotas de chuva em telhados de zinco
meus sonhos em voo
pensamentos sem norte
atravessam concretos E cruzes
passam de mim em mim
nas dobras do meu cérebro
navegando em folhas secas
em palavras confusas E grifadas
enquanto penso
o tempo dança
não quero aplausos
meus sonhos não andam atrás de foguetes
mas plantando flores de todas as cores
regadas com a água que cai
do céu dos meus olhos
não quero luzes de plateias incendiadas
não busco coisas não pensadas
enquanto escrevo
o mundo dá voltas
E há-de me encontrar
nesse canto a pensar que penso
que milhares de pessoas pensam
Se o Fevereiro quem vem
Se o Fevereiro que vem
fosse um caminho
que se abria para mim
onde o destino fosse meus desejos
se o Fevereiro que vem
me trouxesse a resposta
a todos os sonhos que eu tive
se o Fevereiro que vem
tivesse ao menos a arte
de enxugar as minhas lágrimas
E de moldar o meu sorriso
não me importava
que me chamassem nebulosa
Procuraria a árvore
que daria as tábuas para o meu caixão
E fazia dela uma canoa
para navegar entre as conjecturas
as equações E inequações
que a vida inventa
não importava
que o nó da alma estivesse no dedo
que eu nascesse em todo o lado
que meus olhos fossem um estendal de luzes
Se o Fevereiro que vem
sorrisse para mim…
Não Sei Fingir
Sou honesto demais
acredito em tudo o que vejo
não sei fingir
não me importo com o perfume das flores
quando são belas
não me importo com a força do vento
não me importo com o rosto das gentes
cada um tem a sua vida
apesar de ser homem
nunca escondi uma lágrima
faço criancices com as minhas filhas
perco em favor dos outros
porque não sei falsear
nunca amei hipocritamente
embora inconsequente às vezes
não me importo ao que falam de mim
sou doido por tudo isso
mas sou muito feliz!
Por dentro
Olhando a dor, esplendor de luz
colada ao corpo
nos suspiros da terra quente
perpassam séculos por instantes
na minha memória de luzes muradas
na minha retina distorcida
Meus dedos dançam
cisnes num eterno adeus
há um mundo atrás de mim
onde o sol são as risadas de menino
as estrelas vestem-se de prata
todas as noites são ilustres
tapetes orientais
não se sabe porque há braços no pensamento
com medo de dizer palavras
impressas na memória
E ser como se nada fosse
Sinto-me nu
com as minhas ideias
Trivialidades
Ao pé de uma amendoeira
passei por mim
ocasionalmente
tracejando no ar
a nua saudade dos belos tempos
em que subia às árvores corcundas
castigadas pelo vento
uma amendoeira
de um verde brutal
ao pé de um lago seco
onde enterrei a minha pressa
No ramo de cima
numa conversa entretida
um pássaro recorda os seus dias
num trinar de flauta embriagada
borbulhas que voejam
à minha volta dos cinco anos
contando lagartas coloridas
tristes E vagarosas
esperando o dia de anjo
em que as asas se abrem
as folhas das amendoeiras caem
sorvendo o sal do meu rosto
Cada folha que cai
faz cair um sonho meu
mas sem nunca perturbar
a criança que há dentro de mim
A vida no intimo do ser
I
Tudo o que eu quis
era estar na solidão dos outros
acampar as fragas de outro ser
que fosse apenas uma curva
tudo o que eu quis
só existe dentro de mim
por mim E mais ninguém
fragmentos de átomos azuis
que caem dos meus olhos
Sou apenas o espectro de outro ser
fiapos de nuvens de mim
fui plantado em terra húmida
com barro E sangue
musgos E mágoas
de monstros açucenas
em todas as paragens da vivência
sorvendo o gosto salgado do mel
que escorre dos olhos da vida
a solidão é apenas
o adubo das minhas raízes
A morte é um orvalho
de Outonos em intervalos
dos pequenos pontos do i
Gasto horas nas vertentes
vendo a vida a passar de tabuletas
enchendo o meu fosso de lembranças
que passam por mim
deixando peugadas no meu cérebro
II
A vida dos homens é erigir cruzes
criar estrelas em hiroxima
feiras de dentaduras
pequenos eus em outros eus
III
Vejo E velejo
veleiros em fila
subindo ondas que o mar inventa
a distribuir fados
Porque não leram as vítimas da guerra?
Porque não plantaram árvores
na alma do homem?
Na minha mesa
há uma ribeira endoidecida
deslizando dos meus olhos
dividindo as colinas
do meu rosto estatuado
Desde sempre que não me vejo
Meio dia nos meus olhos
meia noite na minha alma
horas mortas dos meus sentido
Cais azulejo meus impulsos
mágoas apócrifas
…
Além
Para além da terra
um horizonte trémulo
serpente estendido
rectilíneo
não há terra
apenas silêncio
lágrimas
saudades
o que não vejo
está dentro de mim
sinto-O
Para além do mar
um barco è deriva
na alma do vento
o mar não existe
fora de mim
Meu universo
afogado no espaço
dos mistérios
da minha origem
Para além do céu
peugadas de um anjo
silhuetas de luzes
formando outros eus
o céu está dentro de mim
a eternidade
o amor
a vida
Eu sou a curva
da existência
que cai como luz
na Criação
Para além do ser
fragas do homem
a infinitude de Deus
Invisível
A caminho da folhagem
cai a lucidez do começo a meio
um deserto branco
de um abismo violeta
2. palavras em sulcos baços
- único no espaço
com diademas
3. jactos de pedra
cascatas de suores
silêncio oblíquo no vazio
de um corpo cinzento
epiléptico
4. cortei a distancia
de um desejo
5. olhos que piscam
círculos de homens
em segredos húmidos
de cobres gotejando
dos lábios incandescentes
efígies malogrados
de glórias à distancia
experiência de um espaço
em contornos
espumando
mistérios na superfície do vago
meneando o perfil do ar
6. A sombra do vento
uma presença inexacta
estática
de mãos estendidas
mendigando ostras E níqueis
corpos de mulher
como prismas ensolaradas
nada de sonhos inclinados
na penumbra de outros sonhos
7. Ao dormires
não deixa o teu corpo
à distância
8. cadeiras emolduradas
cabeços submersos
de um mastro
desmedido
mesmo na face do desespero
há pinturas em declives
longe dos ramos distorcidos
de uma mão delicada
9. Bebo a vida ao teu lado
quando dobras os joelhos
sobre o sol do meu corpo iluminado
nas entranhas
de um gesto eclipsado
nas colinas dos teus seios
brincas com as pontas dos meus dedos
E minhas retinas irrequietas
como insectos em gargalhadas
enlouquecidas
10. Vem me abraçar
E morrer no meu riso
sem sons exilados
sem quases embriagados
de frases em vertigens
11. A cada passo
vertia sangue das nuvens
abertas pela língua
no coro ensalivado
gotas de tristeza
carpir desolado
festejando a sua dor
sempre só
12. Certa vez numa loja
algemaram o pulso
da terra macerada
de músculos pulverizados
apenas uma ave chorando
13. Uma tiara deslizava
nos meus lábios
chamas de vesúvio
acariciando o meu rosto
beijos assentados
bebe-me nos teus olhos
pedras que trazem meu sangue
atrás de uma bola de trapo
no futebol de rua
onde meu primeiro beijo
enterrou-se nos lábios da Elsa
dava sinais de homem
da terra no rosto
brincando de índio
na ribeira funda
pedaços de vidro
abóbadas confusas
de um homem ser criança
II
1. Na próxima
estação da vida
hei-de te acordar
aos gritos inocentes
das crianças abandonadas
hei-de acender os teus olhos
para ver os herdeiros
do caos insolente
assombrado de desespero
na aproxima estação
o buraco no teu cérebro
terá o tamanho da tua consciência
estarás velho demais
para fugir de ti mesmo
lembrarás o solo besuntado
pelas guerras
pelo sangue
pelo horror
pela podridão
pelos zombies
Arrastarás o teu ventre inflamado
nas cicatrizes da terra
E as plantas crescerão nas tuas ventas
os pássaros aninhar-se-ão no teu ventre
espantalho
na próxima estação
todas as crianças abortadas
todas as vitimas da tua espada
acordar-te-ão no meio da noite
E serás cinza polvilhada
de suor
de angústia
o teu verde fétido
far-te-á monstro encurvado
2. À beira da estrada
deixei meus desejos
caídos E soídos de poeira
aos que passam por mim
não quero a compaixão de ninguém
meu Inverno não é eterno
minha ferida não é de morte
3. Sou um homem triste
apenas isso
4. Lembro o meu irmão que morreu
nas mãos dos médicos
durante uma operação muito simples
lembro a minha aldeia
exilada
onde enterrei meus sonhos
porque tenho de sofrer
mesmo estando curado?
porque tenho de chorar
as lembranças do passado?
porquê?
5. apaixonado pela vida
não tenho pretéritos
nem ocasos
nem sábados embriagados
não tenho ilusões
para me distrair
por isso vivo dias
como dádivas do céu
6. o tempo é uma carruagem
rolando sobre a estrada
do meu corpo em chagas
triturando meus ossos
calcinando as juntas dos meus anos
7. Deixei de acreditar em lágrimas
esqueci a arte de sorrir
sou triste
um mocho em agonia
nasci de uma aventura
entre duas ondas
de correntes opostas
sou apenas um engano
8. Ontem li o jornal
E os louvores da ciência
que inventou o futuro incerto
li do assassino que matou
a própria mãe
da janela da minha casa
vejo a fome correndo descalço
vejo o ódio
dançando sobre o cadáver
de um policia furado de balas
9. Bom dia mundo dos homens
bom dia, fábrica de desgraças
máquinas complicadas
energia E incêndios
transportes E acidentes
bancos E bancarrotas
mundo moderno E fome antiga
laboratórios E monstruários
bom dia, esfacelados pelas máquinas
ladrões-puritanos
todos os que acordam lúcidos
cães porosos, sovacos de suor
olhos desorbitados
bocados de aço na perna amputada
engenhos e bárbaros E dentes desalinhados
coloquem vossos rostos
nos contentores
cobres nas mãos carentes
Empurrem a vida com raiva
Empurrem E matem uns E outros
civilizadamente
Horas tardias
Horas tardias
arrastam-se em girândolas
quarto crescente da poesia estagnada
inspiração oleada de risos
a vila está a dormir
ao ritmo da minha máquina de escrever
algures, no Maio
cheiro quente
de pãezinhos no forno
eu estou só
com as janelas abertas
bebendo o luar
num ballet de nuvens algodoeiras
as linhas
dos meus lábios endoidecidos
por dizer o que sinto
em viver da terra sensual
arrastam-se em girândolas
quarto crescente da poesia estagnada
inspiração oleada de risos
a vila está a dormir
ao ritmo da minha máquina de escrever
algures, no Maio
cheiro quente
de pãezinhos no forno
eu estou só
com as janelas abertas
bebendo o luar
num ballet de nuvens algodoeiras
as linhas
dos meus lábios endoidecidos
por dizer o que sinto
em viver da terra sensual
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