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quinta-feira, 25 de março de 2010

Invisível

A caminho da folhagem
cai a lucidez do começo a meio
um deserto branco
de um abismo violeta


2. palavras em sulcos baços
- único no espaço
com diademas


3. jactos de pedra
cascatas de suores
silêncio oblíquo no vazio
de um corpo cinzento
epiléptico


4. cortei a distancia
de um desejo


5. olhos que piscam
círculos de homens
em segredos húmidos
de cobres gotejando
dos lábios incandescentes
efígies malogrados
de glórias à distancia


experiência de um espaço
em contornos
espumando
mistérios na superfície do vago
meneando o perfil do ar


6. A sombra do vento
uma presença inexacta
estática
de mãos estendidas
mendigando ostras E níqueis
corpos de mulher
como prismas ensolaradas


nada de sonhos inclinados
na penumbra de outros sonhos


7. Ao dormires
não deixa o teu corpo
à distância


8. cadeiras emolduradas
cabeços submersos
de um mastro
desmedido


mesmo na face do desespero
há pinturas em declives
longe dos ramos distorcidos
de uma mão delicada


9. Bebo a vida ao teu lado
quando dobras os joelhos
sobre o sol do meu corpo iluminado
nas entranhas
de um gesto eclipsado


nas colinas dos teus seios
brincas com as pontas dos meus dedos
E minhas retinas irrequietas
como insectos em gargalhadas
enlouquecidas


10. Vem me abraçar
E morrer no meu riso
sem sons exilados
sem quases embriagados
de frases em vertigens


11. A cada passo
vertia sangue das nuvens
abertas pela língua
no coro ensalivado
gotas de tristeza
carpir desolado
festejando a sua dor


sempre só


12. Certa vez numa loja
algemaram o pulso
da terra macerada
de músculos pulverizados
apenas uma ave chorando


13. Uma tiara deslizava
nos meus lábios
chamas de vesúvio
acariciando o meu rosto
beijos assentados


bebe-me nos teus olhos


pedras que trazem meu sangue
atrás de uma bola de trapo
no futebol de rua
onde meu primeiro beijo
enterrou-se nos lábios da Elsa
dava sinais de homem
da terra no rosto
brincando de índio
na ribeira funda


pedaços de vidro
abóbadas confusas
de um homem ser criança



II

1. Na próxima
estação da vida
hei-de te acordar
aos gritos inocentes
das crianças abandonadas
hei-de acender os teus olhos
para ver os herdeiros
do caos insolente
assombrado de desespero


na aproxima estação
o buraco no teu cérebro
terá o tamanho da tua consciência


estarás velho demais
para fugir de ti mesmo
lembrarás o solo besuntado
pelas guerras
pelo sangue
pelo horror
pela podridão
pelos zombies
Arrastarás o teu ventre inflamado
nas cicatrizes da terra
E as plantas crescerão nas tuas ventas
os pássaros aninhar-se-ão no teu ventre
espantalho


na próxima estação
todas as crianças abortadas
todas as vitimas da tua espada
acordar-te-ão no meio da noite
E serás cinza polvilhada
de suor
de angústia


o teu verde fétido
far-te-á monstro encurvado


2. À beira da estrada
deixei meus desejos
caídos E soídos de poeira
aos que passam por mim


não quero a compaixão de ninguém
meu Inverno não é eterno
minha ferida não é de morte


3. Sou um homem triste
apenas isso


4. Lembro o meu irmão que morreu
nas mãos dos médicos
durante uma operação muito simples
lembro a minha aldeia
exilada
onde enterrei meus sonhos


porque tenho de sofrer
mesmo estando curado?
porque tenho de chorar
as lembranças do passado?
porquê?


5. apaixonado pela vida
não tenho pretéritos
nem ocasos
nem sábados embriagados
não tenho ilusões
para me distrair
por isso vivo dias
como dádivas do céu


6. o tempo é uma carruagem
rolando sobre a estrada
do meu corpo em chagas
triturando meus ossos
calcinando as juntas dos meus anos


7. Deixei de acreditar em lágrimas
esqueci a arte de sorrir
sou triste
um mocho em agonia


nasci de uma aventura
entre duas ondas
de correntes opostas
sou apenas um engano


8. Ontem li o jornal
E os louvores da ciência
que inventou o futuro incerto
li do assassino que matou
a própria mãe


da janela da minha casa
vejo a fome correndo descalço
vejo o ódio
dançando sobre o cadáver
de um policia furado de balas


9. Bom dia mundo dos homens
bom dia, fábrica de desgraças
máquinas complicadas
energia E incêndios
transportes E acidentes
bancos E bancarrotas
mundo moderno E fome antiga
laboratórios E monstruários


bom dia, esfacelados pelas máquinas
ladrões-puritanos
todos os que acordam lúcidos
cães porosos, sovacos de suor
olhos desorbitados
bocados de aço na perna amputada
engenhos e bárbaros E dentes desalinhados


coloquem vossos rostos
nos contentores
cobres nas mãos carentes
Empurrem a vida com raiva
Empurrem E matem uns E outros
civilizadamente

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Poemas inéditos

a poesia escreve-se com letras conjugadas mas o bom da poesia está nos olhos de quem a interpreta